12/01/2005 - 10:00
Somente pelo estilo literário, é impossível não ler um livro que começa com essas palavras:
“Uma senhora de cabelos
brancos e olhos tristonhos
relê as duas primeiras linhas
de um poema que está tentando terminar interminavelmente
Claro que posso estar lembrando de tudo errado
Após, após – quantos anos?”
Não bastasse o estilo, o livro em questão, Flores raras e banalíssimas, a história de Lota de Macedo Soares e Elizabeth Bishop, escrito magistralmente por Carmen L. Oliveira (editora Rocco), é o mais sociológico, político e delicado cenário de um Rio de Janeiro das décadas de 50 e 60. No livro estão a história de amor e sexo entre Lota e Bishop (numa época em que o lesbianismo era hipocritamente execrado no País), a história do pioneirismo de Lota mudando a paisagem carioca com a formação do Aterro do Flamengo (e para isso peitou o amigo Carlos Lacerda, que precisava muito de seus contatos sociais, e o paisagista Burle Marx) e a história de Bishop (a poeta americana que se torna uma crítica de um Brasil que acreditava estar em seus anos dourados). A autora é pós-graduada em literatura pela Universidade de Notre Dame. Flores raras e banalíssimas é leitura obrigatória para se entender melhor o Rio de Janeiro. Mais que isso: para se entender (com delicadeza) politicamente o Brasil.