19/01/2005 - 10:00
Fotografia
Asfalto – Arqueologia urbana, de Renato Velasco (Conjunto Cultural da Caixa, Rio de Janeiro) – Ao fotografar objetos incrustados nas ruas da cidade, Velasco desperta as diferentes possibilidades de se olhar um pequeno resíduo perdido no caos visual das metrópoles. Não haveria poética possível num tubo de tinta amarela massacrado contra o asfalto se não houvesse o conjunto de fatores reunidos pelo autor: a luz ideal, o recorte adequado e a sensibilidade para enxergar arte no cotidiano urbano. Assim foi feito com uma ficha de telefone, uma tampa de garrafa, um pedaço de celular, algumas moedas. Ao contrário do habitual, as fotos foram expostas no chão, realçadas por fachos de luz direcionados.
(Eliane Lobato)
Cinema
Agata e a tempestade (Em cartaz em São Paulo na sexta-feira 21) – Após o escorregão no drama afetado de Queimando ao vento, o diretor milanês Silvio Soldini retorna à comédia tipicamente italiana ao acompanhar uma livreira de Gênova, Agata (Licia Maglieta), que tem a peculiaridade de fazer lâmpadas queimarem quando está emocionada. O dado fácil de realismo mágico é o que menos conta no filme, povoado de personagens cheios de vida, como o arquiteto Gustavo (Emilio Solfrizzi) e o “caixeiro-viajante” Romeo (Giuseppe Battiston). Irmão de Agata, Gustavo descobre que, na verdade, tem a mesma mãe do desconhecido e espalhafatoso Romeo. A novidade coloca sua vida de cabeça para baixo, mas, como acontece com os outros personagens, cada golpe do destino é premiado com o dobro de alegria.
(Ivan Claudio)
Machuca (em cartaz no Rio e em São Paulo) – Garotos de pouco mais de dez anos, Gonzalo (Matias Quer), Silvana (Manuela Martelli) e Pedro (Ariel Mateluna) vivem um inocente triângulo amoroso, como no Jules e Jim, de François Truffaut. Infelizmente isso acontece no Chile, em 1973, às vésperas do golpe que derrubou Allende. Assim, Gonzalo, filho de um intelectual e uma perua devidamente equipada com um amante mais velho e mais rico, tem que enfrentar a realidade. Pedro, o Machuca do título, é um menino pobre que estuda de favor na mesma escola do principezinho. Favelada como o amigo, Silvana é filha de simpatizantes da causa socialista defendida por Allende. Por meio das aventuras do trio, o chileno Andrés Wood celebra a amizade e condena a intolerância da burguesia. (Luiz Chagas)
Livros
De volta à casa, de Susanna Tamaro
(Rocco, 92 págs., R$ 18,50) – Quem gosta de aproveitar as férias ou o clima devagar-quase-parando dos primeiros meses do ano para refletir tem neste pequeno volume da escritora italiana Susanna Tamaro um perfeito “livro de verão”. Em formato de bolso, a obra pode ser carregada para todo lado, mas está longe de ser leve. Enquanto fala de sua própria história, Susanna – sobrinha do romancista italiano Italo Svevo – aborda temas centrais da existência humana, com a ajuda da
Bíblia
e de filósofos como Jean-Paul Sartre e Aristóteles. Ela diz que os valores dominantes de nosso tempo – sucesso, dinheiro, sedução e poder – simulam um enraizamento e se tornam “um beco sem saída”. Com a ajuda da autora, que tem no currículo
A uma só voz
e
Vá aonde seu coração manda
, é fácil concluir que a vida não pode ser tão pobre assim. (Eliane Lobato)