21/07/2004 - 10:00
Toda a história de O dia do casamento (Rocco, 172 págs., R$ 24), do inglês John Berger, é cercada por uma enorme carga de ansiedade. A suavidade com que o autor inicia a trama não disfarça a sensação de que algo muito importante – ou muito cruel, denso, enigmático, trágico e triste – está para acontecer. Na página 67, enfim, acontece. E o autor mereceria prêmios literários apenas pela maneira de descrever o momento no qual sua protagonista, uma jovem de 24 anos, descobre estar contaminada pelo vírus da Aids. A seguir, Berger mostra um ser humano no momento exato em que “seu pequeno medo se transforma num grande medo”. Ninon, a garota, tem pensamentos desconexos. Não é mais deste mundo, mas não é de outro. O espaço é pequeno para a sobriedade e ela o ocupa inteiramente com uma decisão intempestiva inicial: matar o homem que a infectou.
Só que a vida impõe resistência a seus planos. O homem está morrendo num presídio e o melhor para Ninon é ter compaixão e seguir sua vida. Precisa concentrar-se em Gino, jovem italiano por quem se apaixonou e de quem decide separar-se. Mas novas surpresas ocorrem. O amor de Gino é maior do que o medo de um futuro incerto e acabam se casando. John Berger, 78 anos, tem se tornado famoso pelo hábito de doar a instituições parte dos lucros com a literatura. Quando recebeu o prestigiado Booker Prize, em 1972, quem lucrou foi o grupo Panteras Negras. Agora, os direitos autorais serão doados para entidades de assistência às vítimas da Aids em cada país no qual o livro é vendido. No Brasil, a beneficiada é a Sociedade Viva Cazuza.