21/07/2004 - 10:00
A cada semana, um edifício de alto padrão – com imóveis que valem mais de R$ 1 milhão – é assaltado em São Paulo. É o que revela um levantamento feito por empresas de segurança privada nos últimos dois anos. Não há dados precisos sobre as principais capitais brasileiras, mas sabe-se que os assaltos em condomínios de luxo também infestam Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre e Salvador. Aliás, foi na capital baiana, no início do mês, que um grupo armado invadiu o prédio onde mora Vítor Souto, o filho do governador. Treze dos 20 apartamentos foram saqueados. Poucos são os moradores que fazem boletim de ocorrência, o que ajuda a explicar a escassez de dados estatísticos nas Secretarias Estaduais de Segurança Pública. Entre outros motivos, isso acontece porque a maioria das vítimas não declarou ao Fisco parte dos bens roubados.
Antes de atacar, essas quadrilhas coletam o máximo de informações sobre
a rotina dos moradores do condomínio. É comum contarem com a ajuda dos próprios funcionários para esse levantamento. Foi o que aconteceu, em outubro
do ano passado, no edifício Mílton de Souza Meireles, na região dos Jardins, área nobre da capital paulista. O porteiro permitiu a entrada de um pretenso entregador de tubos de oxigênio. De fato, um dos moradores estava doente, o que prova que alguém informou os bandidos. Assim que a porta de entrada foi aberta, dez assaltantes invadiram o prédio. Varreram oito dos 11 andares em quatro horas. Estima-se que tenham levado quase R$ 10 milhões entre moedas estrangeiras, jóias e obras de arte.
Diarista – Esse fenômeno preocupa tanto que as grandes construtoras decidiram aliar-se a empresas especializadas para implementar obras de segurança máxima. Os novos condomínios – verticais e horizontais – já saem das pranchetas de engenheiros e arquitetos, incorporando as mais modernas tecnologias disponíveis no mercado (leia gráfico ao lado). As grandes vedetes são os equipamentos que controlam o acesso e a circulação de pessoas por impressão digital, leitura de íris ou da face. Apesar do custo, qualquer um pode adquiri-los. A leitora de digitais é a mais vendida devido ao preço de R$ 1.200 em média. A mais cara, que checa a íris do olho, não sai por menos de R$ 25 mil.
Além dessas engenhocas, as câmeras de vigilância se sofisticaram de tal forma que enviam imagens em tempo real para um computador de mão conectado à central de monitoramento via telefone celular. O sistema, implantado pela I-House, empresa de tecnologia de Leonardo Senna, permite até liberar a entrada de um visitante, abrir e fechar portas, acionar câmeras, tudo a quilômetros de distância. Também dá para controlar todos os passos de quem entra ou sai de um edifício, gravando as informações para casos de rastreamento. Qualquer procedimento fora do padrão aciona um dispositivo que comunica a central de controle. Outra inovação é a chave inteligente, que pode ser programada para abrir ou fechar uma porta em horários predeterminados. Se a diarista ou um outro funcionário tentar abrir a porta fora do prazo definido pelo dono da casa, além de não funcionar, o sistema registra a tentativa frustrada.
Jacarés – Para Ricardo Yazbek, um dos mais conceituados construtores do País, a paranóia criada pelo crescimento da criminalidade traz de volta uma versão pós-moderna das fortalezas medievais. “Só faltam o fosso e os jacarés”, diz. Não seria má idéia, afinal essa parafernália não bloqueia situações como a do bandido disfarçado de entregador de flores ou de pizza. Para se ter uma idéia da dimensão desse problema, um arrastão recente só ocorreu porque os assaltantes chegaram num carro dublê da empresa que fazia a segurança do edifício. O porteiro liberou a entrada porque se esqueceu de um pequeno detalhe: a companhia tinha sido contratada para fazer apenas a segurança externa. “Não adianta tanta tecnologia sem o devido cuidado na hora de contratar os funcionários do condomínio”, diz Ricardo Chilelli, da RCI First Consultoria de Segurança Privada. “Além disso, é preciso treiná-los intensivamente.” Caso contrário, não há barreira tecnológica que resista.