Temidas como as sete pragas do Egito e contaminadas pelo veneno de tantas cobras que, enfileiradas, dariam a volta à Terra, as colunas do jornalista Telmo Martino no Jornal da Tarde provocavam calafrios. Serpente encantadora (Planeta, 336 págs., R$ 39,90) cobre o período de 1975 a 1985, época de ferocidade máxima do colunista, que fazia brotar das teclas da máquina de escrever uma mistura de humor e maldade típica de Groucho Marx, Dorothy Parker, Evelyn Waugh, Pagano Sobrinho, Bernard Shaw, Bette Davis, Tom Wolfe, Clodovil, Gore Vidal, Hebe Camargo, Oscar Wilde ou Mae West.

Martino desferia flechadas certeiras como “Sérgio Mamberti deixou crescer o bigode para ficar parecido com Mama Cass.” Seus apostos o tornariam célebre. Uma seleção: Lina Bo Bardi, a última fã de Veronica Lake; Elifas Andreato, o aerógrafo dos oprimidos; Tomie Ohtake, a plácida imperatriz da turma do tempura-e-mesura; Elba Ramalho, a frajola do flagelo; Aracy Balabanian, primeira atriz da Lassie School of Acting; Tetê Espíndola, a sirene do apocalipse; Antonio Fagundes, a maior estrela da Cro-Magnon School of Acting; Maria Bethania, a selvagem da estiagem; Simone, a estrela do samba-êxtase; e o campeoníssimo Fernando Henrique Cardoso, o sénateur mulâtre, o parvenu do palanque, o arrivista da arquibancada, o debutante da demagogia, o pop do populismo e o impressionista dos impressionáveis. Ufa!