21/07/2004 - 10:00
Ian McCulloch no projeto Solos (São Paulo, DirecTV Music Hall, dia 22; Brasília, Iate Clube, 23; Porto Alegre, Bar Opinião, 25; Belo Horizonte, Paço das Artes, 27; Rio de Janeiro, Claro Hall, 30) – A voz esgarçada pelo fumo e pelo álcool, que se tornou a marca registrada do grupo de Liverpool Echo & The Bunnymen, surgido na virada dos anos 1980, inaugura o projeto Solos, que traz líderes de bandas em apresentações acústicas. Carismático até o último fio dos cabelos decididamente desajeitados, McCulloch promete para a segunda parte
do seu concerto um set ao lado de músicos ingleses e brasileiros com a participação de convidados como Leo Jaime, Wander Wildner, Roberto Frejat e Samuel Rosa, variando conforme a cidade. No repertório, canções de seu mais recente álbum solo, Slideling, sucessos dos Bunnymen, além de clássicos de David Bowie e Beatles. E em agosto, para o mesmo projeto, vem aí Chrissie Hynde, fundadora da banda Pretenders. (Luiz Chagas)
O canto do Gregório (Sala CPT, São Paulo) –
Uma nova estrela surge dos domínios do Centro
de Pesquisa Teatral (CPT), dirigido por Antunes Filho. No papel de Gregório, Arieta Corrêa desponta como uma atriz de grandes recursos, sustentando um texto que não dá tréguas ao espectador. Assinada pelo jovem Paulo Santoro, a peça mostra um ser atormentado diante do absurdo da existência, que, na sua busca, questiona figuras como Jesus Cristo, Buda e o filósofo Sócrates. As situações lembram o universo literário de O estrangeiro, de Albert Camus, e O processo, de Franz Kafka. Mas o espetáculo supera a verborragia com uma encenação sem penduricalhos, que tira proveito da proximidade da platéia de apenas 70 lugares. (Ivan Claudio)
Only you, com Harry Connick, Jr. (Sony Music) – Quando o cantor e ator de New Orleans surgiu na segunda metade
dos anos 1980, foi saudado como o novo Frank Sinatra. Exageros à parte, Connick, Jr. mostrou sua voz macia
ao mundo em álbuns quase sempre recheados de toques clássicos. Afinal, é a praia na qual o intérprete e pianista
quis construir sua carreira. Mas tem um momento em que tudo o que já foi gravado pelos maiores nomes da música americana acaba se esgotando e, com rarísssimas exceções, não há mais o que acrescentar às tão decantadas canções. O CD Only you é exemplo deste erro, com um Connick, Jr. burocratizando todas as músicas e empastelando-as com arranjos muito iguais e interpretações preguiçosas. Até parece a Gal Costa de calça. (Apoenan Rodrigues)
A noite (Versátil Home Video) – Realizado há 44 anos, este magnífico filme de Michelangelo Antonioni compõe com A aventura (1959) e O eclipse (1961), a chamada trilogia da incomunicabilidade. Com estilo depurado – a própria “visão do silêncio”, como definiu Caetano Veloso na música que fez em homenagem ao diretor italiano –, Antonioni acompanha um dia na vida de um casal em crise, encarnado por Marcello Mastroianni e Jeanne Moreau. Os dois amargamente descobrem que já não estão unidos “por algo além do tempo e do hábito”. Como complemento, o disco traz um precioso documentário no qual Antonioni – que hoje não consegue mais falar em decorrência de um derrame – comenta todos os seus filmes, de Gente do pó (1943) a Além das nuvens (1995). (Ivan Claudio)