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HARMONIA Alena é adepta de muita conversa e bastante charme para viver bem e feliz com Eduardo

 

Quando o casamento não está lá essas maravilhas, as mulheres costumam ser as primeiras a arregaçar as mangas e buscar ajuda. Muitas recorrem à terapia de casal, outras procuram respostas nas cartas de tarô e algumas levam para casa todos os livros de auto-ajuda que encontram pela frente. A jornalista americana Amy Sutherland preferiu se inspirar no adestramento de animais. Ao freqüentar um curso de adestradores, ela concluiu que algumas técnicas podiam ser muito eficazes se aplicadas aos homens, como ignorar as atitudes negativas e premiar as positivas. A constatação rendeu um artigo publicado no jornal New York Times, em 2006, e causou frisson entre as mulheres nos Estados Unidos. Tanto que acaba de virar livro, What Shamu taught me about life, love and marriage (O que Shamu me ensinou sobre a vida, o amor e o casamento – Editora Random House) já um sucesso de vendas nos EUA. E, em breve, será um filme estrelado por Naomi Watts, com estréia prevista para 2009.

Todo o esforço de aprendizado de Amy foi em causa própria, que queria suavizar o temperamento irritadiço de seu marido. O insight veio ao observar o trabalho dos treinadores de golfinhos, que ignoram a desobediência dos filhotes quando eles querem apenas chamar a atenção. “Às vezes, estou na cozinha e o meu marido começa a reclamar de alguma coisa. Não dou uma palavra. Ele cansa e pára”, exemplifica.

Amy já tem adeptas de suas teorias no Brasil. Casada há dois anos, a estudante de direito Glaucia Martins, de Brasília, por exemplo, até criou uma comunidade no site de relacionamentos Orkut intitulada “Como adestrar seu marido”. Mas, por enquanto, a tática não está surtindo o efeito esperado com seu marido, André Luiz Santos. “Ele continua deixando a toalha no chão, apesar de eu fingir que não vejo”, confessa. “E, se elogio as boas atitudes, ele fica ainda mais bagunceiro.” Apesar dos percalços, Glaucia pretende insistir. “Afinal, adestrar humanos é bem mais complicado do que animais”, brinca.

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Alguns especialistas atestam a eficácia das técnicas da autora americana, mas com ressalvas. “Somos seres condicionados a repetir o que é aceito e agradável e a repudiar o que não é. Isso é válido tanto para adestrar um animal quanto para educar um filho”, afirma a psicóloga Maura Albanesi. “Mas é preciso ter cuidado para que a pessoa não viva apenas para agradar ao outro”, alerta. Outros terapeutas apontam que algumas práticas sugeridas podem contribuir para uma vida a dois mais harmoniosa. A tolerância é uma delas. “É preciso usar as palavras para compreender e não como uma arma desestabilizadora”, enfatiza a psicóloga Marina Massi.

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ACORDO Na casa de Alina e Paulo, é ela quem decide tudo. Com o consentimento dele

A professora de língua portuguesa Alena Cairo, de Salvador, é adepta da boa comunicação, apesar de também se valer de alguns artifícios tipicamente femininos. “Cada homem é diferente e há formas de conhecê-lo, agradálo e fazer o charminho que nos leva aonde queremos”, afirma.

 

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INSISTÊNCIA Glaucia criou até comunidade no Orkut, mas ainda não conseguiu mudar as atitudes de André Luiz

 

 

“Mas isso só vale em relações em que há amor. Dominar para realizar ego não conduz à felicidade”, completa a baiana, que está há dois anos com Eduardo Fontes, preparador físico do Esporte Clube Bahia.

Magdalena Ramos, professora da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), desaprova as idéias propostas no livro. “Elas nada mais são do que uma forma de manipulação e isso é péssimo para a construção de um relacionamento saudável”, afirma. A terapeuta de casal diz, também, que as mulheres costumam ser mais manipuladoras do que os homens. “Elas atuam pelas bordas, com jeitinho. Eles são mais agressivos, bruscos, mas bem mais francos”, comenta.

Na casa da secretária Alina Rocha e do técnico em informática Paulo Eduardo Rocha, em Niterói, não há conflitos. “Às vezes, a mulher precisa assumir o controle. Mas eu não mando, eu peço”, explica Alina, casada há sete anos. Paulo concorda. “Sempre é do jeito dela, até porque ela está quase sempre certa. A Alina decide tudo”, confessa. “E, se meus amigos falam que eu sou controlado pela minha mulher, nem ligo.” Pelo visto, se dependesse apenas do casal Rocha, o livro de Amy Sutherland ficaria mofando nas prateleiras.