Perfume agora é tema de museu. Recém-inaugurado em Curitiba, no Paraná, o Espaço Perfume – Arte & História apresenta um precioso acervo de peças milenares ligadas ao assunto. Uma delas é um raro exemplar da célebre Eau de Cologne Royale, a famosa água de colônia desenvolvida por Jean-Marie Farina para Napoleão Bonaparte carregar dentro da bota. Outra atração é uma sala em forma de garrafa que, com seis metros de extensão, proporciona ao visitante a sensação de percorrer o interior de um frasco.
Iluminada com cristais e fibras ópticas Swarovski e adaptada a uma máquina capaz de reproduzir aromas, a garrafa gigante mostra, de forma didática, as três etapas de percepção de um perfume – as notas de saída, de corpo e de fundo – que se sucedem após alguns minutos. Basta apertar um botão para sentir, na sequência, os três cheiros. A cada fase, os cristais
criam efeitos coloridos.

O espaço foi idealizado por Miguel Krigsner, fundador da rede O Boticário. Segundo ele, foram consumidos vários anos de pesquisa na Europa e nos Estados Unidos para que o resultado se aproximasse de seu sonho. “Pela riqueza de detalhes e de peças arqueológicas, o museu não fica atrás dos maiores da categoria. Somos muito mais modernos em alguns aspectos. É, por exemplo, o único que permite interatividade”, diz. Uma instalação cenográfica retrata os vários momentos do perfume, desde o início da civilização até o final do século XIX, quando foi finalmente consagrado como produto industrial. A viagem pela história revela muitas curiosidades. No antigo Egito, por exemplo, os cheiros eram extraídos da queima de plantas, incenso e especiarias. Na Grécia, eram usadas jarras conhecidas como “lekhytos” para o preparo de unguentos.

O costume de usar perfumes no corpo se fortaleceu a partir de 1.500 a.C. no Egito, durante o reinado de Hatshepsut, primeira mulher a governar o país. Seus rituais de beleza eram feitos com óleo, mel ou leite aromatizados com folhas, raízes, ervas e flores. Perfumar-se também era hábito de Cleópatra, última rainha do Egito, que se untava dos pés à cabeça para encontrar o general romano Marco Antônio. “Tais rituais são objetos de pesquisa e fontes de novos conceitos para a indústria de cosméticos até hoje”, afirma Renata Ashcar, curadora do Espaço e especialista em perfumes.

Outro personagem importante na história da perfumaria é o imperador Napoleão Bonaparte. Durante a Guerra dos Sete Anos, as tropas francesas se instalaram na cidade de Colônia, na Alemanha, onde vivia Jean-Marie Farina, criador da Água de Colônia. A famosa fragrância conquistou o imperador, que despejava todas as manhãs um frasco inteiro sobre sua cabeça. Quando deixou a cidade, ganhou uma versão esguia do produto que carregava dentro da bota e usava mesmo quando estava em batalha. Não por menos, a França saiu na frente nas pesquisas científicas e na produção de artigos de luxo. Foi lá que a estilista Gabrielle Chanel revolucionou não apenas a moda, mas também a perfumaria. Seu Chanel nº 5, lançado em meados da década de 20, ganhou fama internacional após Marilyn Monroe declarar que, para dormir, usava apenas algumas gotas do produto.

Ao Brasil, o hábito de perfumar-se foi trazido pela corte portuguesa. O alto consumo de colônias pela família real colocou o País entre os maiores importadores de perfumes franceses. Foi só no período entre guerras que os primeiros passos rumo à industrialização foram dados. O sabonete Phebo Odor de Rosas e as colônias Seiva de Alfazema e Leite de Rosas, pioneiros da produção brasileira, conquistaram o público e viraram sinônimo de sofisticação. Mas a perfumaria nacional só se consolidou na década de 90, quando o mercado se abriu para os importados. Sem perder tempo, empresas nacionais começaram a investir no segmento e passaram a concorrer em pé de igualdade com produtos vindos de fora. Tudo isso pode ser visto e cheirado nas aromáticas galerias do museu.