A imagem remete a uma cidade em construção. Caminhões transitam de um lado para outro. Operários correm de lá para cá. As chaminés ainda esperam pelo acionamento do botão verde dos fornos. Esse é o retrato do maior investimento da indústria petroquímica brasileira, uma idéia de pelo menos 30 anos: a inauguração de uma companhia petro-química integrada, o Pólo Gás-Químico. Instalado em Duque de Caxias, na baixada fluminense, o empreendimento deve começar a opera em abril de 2005. Trata-se, na cadeia industrial, de pegar o petróleo ou o gás, refiná-lo e transformá-lo em plástico, que logo ganha a forma de um pára-choque de automóvel, uma sacola de supermercado ou até de um gabinete de computador. “É a concretização de um sonho”, diz David Feffer, controlador do grupo Suzano, um dos acionistas do negócio. “Iniciaremos o maior investimento já feito na indústria petroquímica brasileira.”

A Rio Polímeros, eis o outro nome com a qual nos habituaremos a chamar essa aposta econômica, é projeto de US$ 1 bilhão. Produzirá 540 mil toneladas de uma resina plástica a partir do gás obtido na Refinaria Duque de Caxias (Reduc). O impacto dessa movimentação na região será imediato. Empregos serão gerados, companhias virão para a baixada fluminense e a arrecadação de impostos será expressiva. Os acionistas majoritários – Unipar (33%) e Suzano (33%) – e os minoritários — Petrobras (16,7%) e BNDES (16,7%) —assistem com orgulho paterno o crescimento do filhote. Se durante a obra, a Rio Polímeros propiciou o surgimento de 5 mil postos de trabalho, depois de pronta, deverá gerar 400 empregos diretos. Deve gerar, ainda, vagas também em outros setores de Duque de Caxias, quando a primeira chaminé funcionar e as empresas transformadoras de plástico começarem a desembarcar. Atualmente, há cerca de 20 grupos interessados em fincar raiz ao redor do pólo Gás-Químico. Boa parte deles deverá produzir sacolas para supermercados e embalagens plásticas.

Mas a realização de um sonho, é fundamental observar, não termina na atração de corporações ou na geração de empregos. Há um outro efeito colateral: a arrecadação. Ela deverá ir às alturas. Estimativas dos controladores apontam que o empreendimento vai produzir algo como US$ 282 milhões em taxas e toda sorte de contribuições para o município, Estado e a esfera federal. Só o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), trará US$ 88 milhões. Em Imposto de Renda, chegarão outros US$ 78 milhões. Sem contar os US$ 93 milhões que ficarão a cargo do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). É uma enxurrada de recursos inédita no Estado.

Um dos principais produtores de petróleo do País, o Estado fluminense e seu empresariado sempre acreditaram que o caminho natural passaria por uma integração entre o ouro negro e a produção de resinas plásticas, usadas largamente por diversos setores da indústria. Era o projeto de agregar valor à cadeia do petróleo. No passado, as autoridades fluminenses tentaram algumas vezes. Chegaram bem perto em meados da década de 80, quando quase viabilizaram o pólo de Itaguaí, mas o projeto não saiu do papel.

A própria história da Rio Polímeros, contudo, confirma que tirar um projeto zero quilômetro da gaveta não é uma tarefa fácil. Mesmo com sócios de peso no empreendimento, os controladores passaram quase uma década discutindo financiamentos, matéria-prima e capacidade de produção. O resultado, na ponta do lápis, pode ser visto em seis pesados livros de capa preta, com cinco quilos cada um deles. A idéia de uma petroquímica a partir do gás natural nasceu em 1994. Naquela época, iniciou-se uma discussão sobre estrutura societária, mas tudo virou realidade em 1996, quando foi criada a Rio Polímeros. Inicialmente, a empresa foi desenhada para produzir 300 mil toneladas da resina plástica. No entanto, pouco tempo depois, aumentou a disponibilidade de matéria-prima e o que era 300 virou 540 mil toneladas, que é o seu tamanho original.

Mas por que Duque de Caxias? Na cidade da baixada fluminense, a Rio Polímeros pegará o gás da Reduc, que vem da bacia de Campos, a capital do petróleo. Tratado, o insumo estará pronto para ser transformado em produto e gerar riqueza na região. O Pólo Gás-Químico é a atual jóia da coroa fluminense.