"Agora, enfie”, disse a formosa dama a um repórter. Elegante, culta, poliglota, Teresa Heinz Kerry, mulher do candidato democrata John Kerry, é assim, sem papas na língua. Ela havia acabado de reclamar sobre a falta de educação na Convenção Democrata em Boston. “Precisamos reverter algumas das características mais assustadoras, às vezes, antiamericanas que vêm entrando em parte da nossa política”, disse ela. “O que quer dizer com atividades antiamericanas?”, perguntou o editor de opinião Colin Mcnickle, do jornal conservador Pittsburg Tribune Review. Teresa, então, afirmou que não teria dito aquilo. Ele insistiu. Ela saiu andando, parou de repente e voltou. Foi quando soltou o sonoro verbo “enfiar”.

Mas o embate com o jornalista não ofuscou o brilho de Teresa. Ao contrário, disse a que veio. “Tenho opiniões e não me envergonho de apresentá-las. Sou esposa de um candidato democrata à Presidência do país e as forças conservadoras procuram distorcer minhas palavras”, afirmou Teresa a ISTOÉ, em Boston. “Há muito tempo, desde a adolescência em Moçambique, passando pelos processos na África do Sul, participo de movimentos políticos. Eu coloquei minha vida em risco na África do Sul e não temo os que tentam me calar”, continuou ela.

Nascida Maria Teresa Cristina Thierstein Simões, em Moçambique, quando este país era colônia de Portugal, ela é filha de médico português e mãe de muitas posses. Tem 64 anos, quatro a mais que Kerry. Aos 12 anos, Teresa foi estudar em um colégio de carmelitas, em Johannesburgo, na África do Sul. Apesar da discordância da mãe, ela participou de protestos contra o apartheid.

Os marqueteiros da campanha democrática temem que essa caraterística de falar o que lhe dá na telha coloque em risco a carreira do marido. Teresa já revelou que colocou botox, chamou os debates do Partido Democrata de perda de tempo e até pouco tempo atrás falava de seu falecido marido, Henry John Heinz III, herdeiro do império industrial do ketch-up, como sua grande paixão. Ela conheceu John Heinz , o senador republicano pela Pensilvânia, na Suíça, onde estudou. Mudou-se para os Estados Unidos e passou a trabalhar como intérprete nas Nações Unidas em meados dos anos 60. Além do português e do inglês, Teresa fala fluentemente espanhol e francês. Em 1966, ela casou-se com o milionário, que já tinha duas filhas. Com Heinz, Teresa teve três filhos: John, Andre e Christopher. Depois de 25 anos de casamento, ela perdeu o marido em trágico acidente de avião. Heinz deixou-lhe uma fortuna de US$ 500 milhões e uma aliança que ela até hoje carrega no dedo. Chegou a tomar Prozac para vencer a depressão. Enterrou-se de vez no trabalho com a Fundação Heinz. Se Kerry for eleito, ela continuará a trabalhar na instituição.

O encontro de Teresa e John aconteceu no calor do Rio de Janeiro, em plena Eco 92, quando a então viúva desembarcou no Brasil e conheceu John, na época um homem divorciado. Se seu marido chegar à Casa Branca, Teresa certamente será uma primeira-dama muito pouco convencional. Neste caso, os conservadores terão saudades de Hillary Clinton.