O brasileiro mais importante do Gabão, hoje, é o treinador da seleção que disputa as eliminatórias da Copa
do Mundo de 2006: Jairzinho, o furacão do tricampeonato no México. Mas, na terça-feira 27, os brasileiros mais citados no berço do maracatu e da capoeira eram Ronaldo, o fenômeno do Real Madrid, e Lula, o presidente do Brasil, que desfilou num Rolls-Royce conversível saudado por uma multidão entusiasmada nas ruas da capital gabonesa, Libreville, que gritava o nome dos dois na escala mais importante da visita de quatro dias de Luiz Inácio Lula da Silva a três países do litoral ocidental da África.

“O Atlântico não é um oceano que separa, mas um rio que une nossos povos e destinos”, pontificou Lula diante do longevo presidente Omar Bongo Ondimba – um muçulmano que mantém um harém de 15 a 40 mulheres e chegou ao poder em 1967, quando Lula ainda não tinha embarcado no pau-de-arara que o levou do sertão pernambucano para São Paulo. Agora, o ex-sertanejo Lula está de olho grande no potencial econômico da ex-colônia francesa com PIB de US$ 7 bilhões e grandes jazidas de manganês. A Vale do Rio Doce, que integrava a comitiva presidencial, já tem 200 funcionários lá, integrados num projeto que vai dobrar a produção de manganês do país e torná-lo o maior exportador mundial em 2006. Com tantas oportunidades, o Brasil resolveu dar um presente ao Gabão: perdoou sua dívida de US$ 36 milhões, que o País converterá em incentivos fiscais para empresas brasileiras investirem no país. Embevecido, Bongo sussurrou ao ouvido de Lula: “Agora, eu sou de seu partido.”

Na véspera da primeira escala da viagem, o arquipélago de São Tomé e
Príncipe, o governo brasileiro liberou US$ 650 mil para projetos de cooperação social, doou outros US$ 500 mil que tornaram possível a realização da quinta Conferência da Comunidade de Países de Língua Portuguesa e reativou no
país a Bolsa-Escola – que sustenta 100 famílias com US$ 20 mensais. Ganhou, de quebra, a promessa dos sete países que com ele integram a CPLP (Portugal, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique e Timor Leste) de apoiar a pretensão brasileira a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. Mas o presidente Fradique de Menezes, que na visita do ano passado reclamara da ausência da Petrobras na comitiva brasileira, desta vez festejou a presença de técnicos da estatal, que agora avaliam o potencial da rica província petrolífera nas águas profundas do Golfo da Guiné, com reservas estimadas em cinco bilhões de barris.

No arquipélago de Cabo Verde, Lula prometeu ampliar a ligação aérea semanal
que hoje existe entre a Ilha do Sal e Fortaleza. Neste vôo de duas horas e meia,
os sacoleiros de Cabo Verde injetaram R$ 30 milhões na economia do Ceará
em 2003, segundo dados do Sebrae, levando 400 toneladas de roupas de praia, bolsas e sapatos que o país, que importa 92% de suas necessidades, não
produz. “É inadmissível que multidões permaneçam em extrema pobreza,
pelas barreiras impostas pelos países desenvolvidos. Não podemos permitir
que populações inteiras paguem os preços dos subsídios concedidos a uma minoria rica”, discursou Lula em Praia, capital cabo-verdiana, com um tom proustiano: “Queremos estabelecer com o continente africano uma recuperação
do tempo perdido.”