12/10/2005 - 10:00
Respaldado agora pelo grupo que comandou o BNDES no início do governo Lula – capitaneado pelo economista Carlos Lessa –, ele garante que nada mudou nas propostas econômicas que pregou em 2002, a começar pela redução da taxa de juros. Ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho tirou um calo das cordas vocais no início da semana, mas mantém a língua afiada quando analisa os adversários que enfrentará dentro e fora do PMDB. A primeira tarefa será convencer a ala governista da importância de manter a decisão de ter candidato próprio. A segunda, sair vencedor nas prévias no dia 5 de março, quando cerca de 20 mil peemedebistas decidirão se haverá candidatura e qual o nome que disputará o Planalto. A terceira é impedir que a convenção nacional derrube, na base do tapetão, os resultados das prévias e parta para uma coligação.
Fiquei no PMDB por um motivo claro: não quero ser candidato a presidente do Brasil, quero ser presidente do Brasil. Candidato já fui uma vez e tive 15 milhões de votos. Só poderei ser presidente do Brasil por um grande partido, que tenha a estrutura nacional que o PMDB tem. Um partido pelo qual eu possa vencer as eleições e depois ter apoio parlamentar suficiente para governar e implementar as mudanças tão importantes para que o País saia dessa armadilha econômica que vem vivendo há mais de dez anos.
Optei por ficar no PMDB consciente das dificuldades que terei de ultrapassar. Nos últimos meses, através de contatos com as bases partidárias, governadores, prefeitos, senadores e deputados federais, tenho vencido muitas resistências. É natural que eu não tenha a unanimidade, mas terei, com certeza, até as prévias, a maioria. A maioria forma o consenso e o consenso forma a unidade que é diferente da unanimidade. Alguns setores mais conservadores do partido, que temem uma política econômica diferente desta que vem empobrecendo o Brasil, podem se colocar contra a minha candidatura. Mas a ampla maioria do PMDB quer essa mudança, quer ver um governo peemedebista.
Isso dificilmente aconteceria com a minha candidatura. Fui candidato por um pequeno partido, o PSB. Sem estrutura, tempo de tevê e candidatos a governadores fortes nos Estados fiz 18% dos votos válidos. Fiquei a 4% de José Serra (PSDB), que tinha candidatos a governadores fortíssimos, a máquina do governo federal, muitos recursos para a campanha, sem contar com tempo de tevê. Quem já viveu uma candidatura como vivi não precisa temer esse tipo de abandono. Na minha candidatura, o PMDB acrescentará muitos votos importantes para chegar ao segundo turno e vencer as eleições.
Eu confio nas regras e disse ao presidente do partido, Michel Temer, que disputarei as prévias do PMDB com qualquer regra. Só quero que existam regras. Elas foram estabelecidas, a data é 5 de março e espero até lá conquistar o maior número de aliados possível e vencer as prévias. Não temo nenhum candidato, embora respeite todos. O PMDB tem tanta força que pode oferecer ao Brasil um elenco enorme de candidatos a presidente. O importante para o PMDB, neste momento, é ser aquilo que o País precisa: uma via alternativa ao neoliberalismo do PSDB e ao genérico, que se tornou o PT.
Creio que no PSDB. O PT terá muitas dificuldades. A militância está sem crença no partido, a bandeira da ética, defendida durante muitos anos, foi rasgada e, além do mais, que motivo um eleitor conservador teria para votar no PT se ele tem uma opção mais confiável para fazer a mesma coisa, que é o PSDB, já que as políticas econômicas são iguais?
Na política econômica são iguais. São iguais também na compra de votos. O PT comprou deputados para aprovar projetos do governo. O PSDB comprou votos para a reeleição de FHC. São iguais em relação à corrupção. O PT faz de tudo para que não se chegue até o âmago, ao centro da corrupção, praticando uma espécie de diversionismo político. O PSDB impediu a instalação da CPI da corrupção. São iguais no caixa 2. O PT assume que fez. O PSDB, através de seu presidente, o senador Eduardo Azeredo (MG), também assumiu que fez caixa 2. Eu diria que temos hoje na política brasileira uma nova modalidade: os petecanos.
Não tenho bola de cristal, mas já disputei eleição com o Serra, e o Serra é uma espécie de José Dirceu do PSDB. Ele é uma pessoa que
monta dossiês, faz intrigas, estimula o jogo baixo da política. O governador Geraldo Alckmin tem outra postura. O próprio presidente Fernando Henrique também. Não que eu queira com isso desmerecer o prefeito José Serra. Só acho que ele age de maneira muito truculenta. Ele coloca a ética de lado e atropela, passando por cima de qualquer coisa para atingir seus objetivos.
Não sei se um presidente assim seria bom para o Brasil.
Não sei. Ainda estou na etapa de convencer o PMDB. Essa é hoje uma grande questão. Construir um programa de governo junto com meus companheiros Carlos Lessa (ex-presidente do BNDES), César Benjamin (ex-militante da esquerda do PT), Eduardo Melin (ex-diretor de Comércio Exterior do BNDES), Dark Costa (ex-vice-presidente do BNDES). Queremos que o povo entenda perfeitamente este programa para que possa fazer um julgamento entre o que nós desejamos para o Brasil e o que o PT e o PSDB desejam para o Brasil. Em síntese, queremos que o País tenha um espírito de nação. Não queremos transformar o Brasil num mercado.
Os banqueiros, em seus países de origem, respeitam valores, princípios. Por que não fazer o mesmo aqui no nosso país? O Brasil já foi o país do futuro, o país emergente e hoje é chamado de mercado emergente. Eu rejeito este título. Temos que ser uma nação. Esse é o ponto de partida. Uma nação que tem tudo para crescer, diminuir as desigualdades e ser, de fato, aquilo que tanto esperam do Brasil. Desde que eu era bem garotinho eu ouvia dizer que o Brasil era o país do futuro e esse futuro nunca chega. Temos hoje 92 milhões de brasileiros ganhando até um salário mínimo, e um terço desses 92 milhões ganha R$ 100, outro terço R$ 150 e o restante R$ 300. Na distribuição de renda no mundo estamos nas últimas colocações. O Brasil não merece isso.
O Brasil foi tão mal nos últimos 20 anos que quando respira um pouquinho aliviado pensa-se que vai muito bem. A evidência de que estamos mal é que a Argentina, depois de ter feito tudo que fez, tem seu risco-país (credibilidade financeira) menor que o do Brasil. Qualquer cidadão honesto sabe que a dívida brasileira é uma bomba prestes a explodir. Em 1994 a dívida interna era de R$ 64 bilhões. Em setembro, fechou em R$ 925 bilhões e neste mesmo período já pagamos sobre essa dívida juros de R$ 1 trilhão. Isso é uma imoralidade. Então, reduzir essa taxa de juros para patamares civilizados é o primeiro passo que nós adotaremos. O segundo passo é provar que juros baixos não geram inflação. Qualquer economista sabe que o que provoca inflação é um orçamento desequilibrado.
O Brasil gastou no ano passado 40% de tudo que arrecadou para pagar juros. É o próprio pagamento de juros que desequilibra. À medida que reduzirmos a taxa, reduziremos o comprometimento com pagamento desses juros e aí teremos recursos para investir em infra-estrutura. O País, para dar um salto de qualidade, precisa investir em infra-estrutura e, com isso, galgar um outro patamar de desenvolvimento. O Brasil não pode crescer a 4%. Tem que crescer a 7% e durante pelo menos dez anos. Há um estoque grande de desemprego e crescendo a 4% o País não consegue absorver os que têm de entrar no mercado de trabalho. Se não crescer a 7% por uma década, não conseguirá distribuir renda. Não podemos nos nivelar por baixo. Nós devemos olhar para China, Rússia, olhar para países que estão crescendo a 7% ou mais.
Creio que não.
O problema não é chegar lá, e sim como chegar lá. O Lula não mudou porque chegou lá. Mudou porque durante a campanha fez alianças que comprometeram seu futuro. Por exemplo, Lula, Serra e Ciro Gomes receberam dinheiro da Federação dos Bancos (Febraban). Eu recusei. Tinha convicção de que, se aceitasse doação, eu estaria moralmente comprometido para fazer as mudanças. É a campanha que define o governo, não o contrário. Os bancos apostam em determinados candidatos na intenção de que esses candidatos defendam seus interesses.
Por isso não contribuem (risos). E quando tentam contribuir não aceito porque alguém vai estar sendo enganado.
Farei uma campanha simples. O ponto de vista do discurso econômico será o mesmo, até porque Lessa, Dark e Benjamin influenciaram bastante meu programa de governo no PSB. Mas terei uma vantagem. O PMDB tem 17 candidatos a governador favoritos, que podem vencer as eleições. Isso facilita muito porque os palanques estaduais estão montados.
Mesmo se fosse não contaria. Quem recebe herança não conta. Agora, tenho um carinho especial por São Paulo. No começo da minha vida, quando perdi meu pai, passei um período em Bauru. Os paulistas podem ficar tranqüilos. Se eu for presidente, talvez faça mais por São Paulo do que alguns presidentes paulistas que não olharam pelo Estado como deveriam.
Isso vem de alguns setores que não têm argumento contra nós. Não podem atacar a nossa honestidade, o êxito do governo do Rio, então criam a pecha de populista. De 1999 até hoje, com a governadora Rosinha seguindo a mesma política econômica, aumentamos a participação do Estado no PIB nacional de 9,4% para 14%. Recuperamos o setor naval, implantamos um pólo gás-químico pioneiro. Levei a indústria automobilística para o Estado. Elevamos o Rio à condição de Estado do aço. Em todos os setores econômicos tivemos avanços extraordinários.