Seria muito mais fácil votar no referendo das armas se a pergunta a ser respondida fosse outra: “Você é a favor ou contra o Estado gastar mais dinheiro em segurança para proteger seus cidadãos?” Ou mesmo se a essa se acrescentasse mais uma: “Você é a favor ou contra o Estado gastar mais verba com a educação de seus cidadãos e com isso começar a reduzir o contingente de pessoas na miséria e obrigadas a subsistir na marginalidade?” Também não seria complicado escolher a tecla a ser digitada na urna se mais outra pergunta fosse acrescentada às acima citadas: “Você é a favor ou contra o Estado gastar mais dinheiro para criar empregos para seus cidadãos, com isso reduzindo sua vulnerabilidade ao estado paralelo do crime, seja ele organizado ou não?” Apesar do excesso de questões, nenhuma dúvida. As respostas são óbvias. Mas como o que vamos decidir, no próximo dia 23, não é nada disso, e sim se deve ou não ser proibido o comércio de armas de fogo e munições, a coisa fica um pouco mais complicada.

E, para ajudar a nortear sua decisão, ISTOÉ apresenta, a partir da pág. 60, subsídios para que ela seja tomada. Eles são apresentados na dolorosa forma de 14 dramáticos relatos de pessoas cujas fatalidades ajudaram a engordar as assustadoras estatísticas acionadas pelos disparos de armas de fogo.

Sete dessas pessoas ouvidas por ISTOÉ contam suas razões para votar contra a proibição do comércio de armas e munição. Como o gaúcho Fabio Becker, empresário de 30 anos atingido acidentalmente por uma bala disparada por um amigo, que, apesar de ter ficado tetraplégico, vai votar não à proibição.

As outras sete relataram seus motivos para votar a favor da proibição. Como Maria Alice Gonçalvez Rezende, professora de Brasília, que perdeu uma filha de apenas 18 anos, morta pelo namorado. Lidando penosamente com a comovente dor da perda de uma filha, Maria Alice vai às urnas, dia 23, para votar sim.

Além das razões emocionais que podem influir na decisão, ISTOÉ apresenta os argumentos usados pelos responsáveis pelas frentes parlamentares de ambos os lados: a do sim e a do não. A reportagem também esclarece as dúvidas em relação a como ficará a situação legal do cidadão depois de conhecido o resultado do referendo, seja ele qual for. E, por fim, apresentamos a opinião de Ricardo Chilelli, experiente e conceituado especialista em segurança, que contesta os argumentos apresentados por ambas as campanhas e ressalta um dado que nos remete à primeira pergunta formulada logo no início deste texto: o custo do referendo girará em torno de R$ 240 milhões. Já os gastos com segurança pública no País em 2004 foram de meros R$ 165 milhões.

Escolha seu voto, pois ninguém decide por você.