12/10/2005 - 10:00
Se não pode com o inimigo, junte-se a ele. As maiores operadoras brasileiras de telefonia parecem seguir à risca o ditado popular. Numa revolução silenciosa e sem precedentes, as companhias de internet passaram a ameaçar uma das mais rentáveis fontes das empresas de telecomunicação: as chamadas interurbanas. O fenômeno se multiplicou como um furacão. Começou com o Skype, um programa de comunicação de voz pela internet que oferece conexões telefônicas de baixo custo, ou gratuitas, para quem tem computador conectado à internet. Basta os interlocutores baixarem um programa da internet, comprar um fone de ouvido com microfone ou alto-falantes e falar à vontade. Hoje são 168 milhões de usuários no mundo – o Brasil é o quinto mercado, com dois milhões de downloads.
Popular na Europa, o Skype chegou ao Brasil pelas mãos das grandes companhias, que buscavam reduzir os custos de comunicação entre suas filiais ou entre clientes e fornecedores. Hoje esse serviço está disponível para qualquer residência com acesso à internet em banda larga. Vendido no mês passado para o site de leilões eBay por US$ 4,1 bilhões, o Skype é mais um exemplo de como as novas tecnologias transformam as relações sociais e econômicas. Assim como o endereço de buscas Google mudou a forma de navegar na rede, o Skype tornou as chamadas telefônicas virtualmente gratuitas. Mesmo nos serviços pagos, nos casos de chamada para quem não tem computador, as tarifas são até 90% inferiores às das operadoras convencionais (leia quadro).
Para efetuar ou receber ligações no chamado serviço VoIP (abreviação de voz sobre protocolo de internet), não é preciso ficar atrelado ao computador. Quem quiser pode ter um telefone IP, aparelho telefônico de uso exclusivo para internet. Ou então um adaptador, que faz qualquer telefone virar um IP para efetuar ou receber ligações online. Uma empresa pode ter um número de telefone local, mesmo que esteja fisicamente em outro município ou país. Quem viaja para o Exterior recebe chamadas convencionais sem que, do outro lado da linha, a pessoa pague tarifa internacional. “Em seis meses, conseguimos 70 mil assinantes. O VoIP vai mudar a relação do usuário com o computador e com o mercado de telefonia”, explica Orli Machado, fundador da CMSW Telecom, que comercializa o adaptador Erme Fone.
Sem fronteiras – Outra forma de utilizar o serviço é baixando da internet programas gratuitos que simulam telefones na tela do computador. Foi assim que a nutricionista paulista Marina Barbará reduziu sua conta mensal de R$ 200 para R$ 90. “Tenho amigas no Canadá que me influenciaram a baixar o programa. Aí contratei uma operadora para fazer ligações para minha irmã, que mora no Rio Grande do Sul e não usa computador”, conta. Antes de escolher a operadora – hoje são mais de dez –, Marina analisou os serviços oferecidos. “Queria algo de qualidade, com preço bom e assistência técnica todos os dias da semana.”
Videofone – O ponto alto dessa tecnologia são as tarifas baixas. Não é difícil entender por que uma ligação para Nova York é mais barata que uma chamada
local. O princípio é o mesmo da internet, em que não há fronteiras e é possível viajar de um jornal no Japão para um bistrô na França, um café em Nova York ou um teatro em Copacabana, tudo com apenas um clique do mouse. Só em 2004, mais de um terço das chamadas internacionais (DDI) feitas no Brasil foi através do VoIP. Segundo a Associação Brasileira de Telefonia Fixa Comutada (Abrafix), as operadoras deixaram de faturar pelo menos R$ 800 milhões. No embalo, as telefônicas tradicionais acordaram do sono profundo. Entre o final deste ano e o início de 2006, Embratel, Brasil Telecom e Telefônica prometem oferecer seu serviço de ligações via internet banda larga.
Nos últimos meses, sites tradicionais como MSN, Yahoo e ICQ lançaram uma modalidade para conversar e ver o interlocutor, com uma câmera de vídeo. O
contra-ataque foi rápido e a Embratel lançou seu videofone. Inspirado no telefone da família Jetsons – desenho animado futurista da década de 60 – o aparelho é um telefone normal, só que tem uma tela de vídeo na qual é possível ver a pessoa com quem se conversa. “Grande parte da comunicação é visual e o videofone dificulta a pessoa de fazer outras coisas enquanto fala”, conta Maurício Vergani, diretor da Embratel, que vende o aparelho para empresas por R$ 1.600. A Embratel deve oferecer ainda o serviço de VoIP aos clientes de banda larga Vírtua, da Net. Seu atrativo é a qualidade, semelhante à das chamadas convencionais. Esse é o diferencial prometido por todas as telefônicas, uma exigência da Agência Nacional
de Telecomunicações (Anatel), que impede concessionárias de serviços públicos
de oferecer produtos de baixa qualidade.
A Brasil Telecom deve estrear no mercado de VoIP em novembro, e, assim como a Telefônica, usando o próprio serviço de banda larga, o Turbo. “Vamos oferecer pacotes agressivamente mais baratos”, diz Eugênio José Fonseca, diretor da Brasil Telecom. As empresas de telefonia negam ter perdido dinheiro com o VoIP. “Só quem tem banda larga pode usufruir desse serviço, e é no máximo 8% do mercado brasileiro”, justifica Fonseca. Dona de 70% do mercado de banda larga do País, com 1,3 milhão de clientes no Speedy, a Telefônica quer chegar a 1,5 milhão de clientes antes de lançar seu VoIP. Há ainda um longo caminho a percorrer para que as ligações de longa distância, a custo de tarifa local, estejam ao alcance de todos. Graças a essa nova tecnologia, porém, as empresas de telefonia reduziram suas tarifas e agora tentam atingir seu novo público-alvo, as classes C, D e E, que não têm acesso à internet de banda larga.
Prova dos noves – Todos os dias, três milhões de pessoas usam o serviço de telefonia pela internet para conversar. Dados da empresa de consultoria Synergy mostram que a venda de equipamentos VoIP deve render US$ 4,5 bilhões em 2005. Para 2009, a previsão é de US$ 11 bilhões.