12/10/2005 - 10:00
A figura do funcionário-fantasma está de volta. A assombração tem nome, sobrenome e ainda carrega o DNA do nepotismo. Trata-se de Laurence José Alves de Macêdo, 28 anos, que desde janeiro do ano passado deveria bater ponto na Divisão de Irrigação do Ministério da Integração Nacional. Dali, mês a mês, ele recebe um salário de R$ 2,8 mil. Só não aparece para trabalhar. O caso seria apenas mais uma história fantasmagórica não fosse um detalhe: Laurence é filho de Hypérides Macêdo, um dos mais importantes secretários do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes. Hypérides comanda a Secretaria de Infra-Estrutura Hídrica, de onde sai dinheiro para o desenvolvimento de projetos de irrigação, e é um dos responsáveis pelo projeto de transposição das águas do rio São Francisco.
O verdadeiro local de trabalho do filho do secretário está a mais de 2.300 quilômetros de Brasília, num edifício de salas comerciais encravado no bairro da Aldeota, zona nobre de Fortaleza, bem pertinho do mar. Ele dá expediente no escritório da IBI Engenharia Consultiva, empresa da qual é sócio junto com a mãe, o irmão e a cunhada. A IBI é conhecida no Nordeste, pois tem contratos com governos estaduais e prefeituras para prestar consultoria. O próprio Hypérides figurava como um dos donos da empresa antes de assumir o cargo.
Engenheiro recém-formado, Laurence foi admitido pelo Ministério em 13 de
janeiro de 2004. Se freqüentasse o trabalho, seria subordinado ao pai. Mas, no Ministério, pouquíssimos sabem de quem se trata. Conhecido mesmo ele é na
sede da IBI. “Ele é um dos donos da empresa e está todo dia aqui”, disse um
dos funcionários. Na terça-feira, ISTOÉ foi ao Ministério procurar por Laurence. Na divisão de irrigação, os funcionários disseram nem saber de quem se trata. Surpreendido, o chefe de gabinete de Hypérides, Ricardo Pontes, disse que o filho do chefe trabalha num escritório da pasta em Fortaleza, versão que caiu logo em seguida – pois lá, também, ele é um estranho. Já Hypérides assegurou que Laurence, apesar de não aparecer, fiscaliza obras do Ministério no Nordeste. O secretário admitiu, depois, que há irregularidade: “Confesso, a situação não é regular. Isso não é nada confortável.” Só não explicou por que, até agora, vinha fazendo vista grossa à boquinha-fantasma do filho.