15/04/2009 - 10:00
À MODA PORTUGUESA No restaurante Antiquarius, a sardinha é servida assada com rodelas de batatas cozidas, pimentões, azeite, sal, alho e vinagre de vinho branco
Ela costuma ser julgada como comida barata e sem categoria – e, além disso, é cheia de espinhas. Mas agora até os restaurantes mais badalados começam a puxar a brasa para a sardinha. Tradicional nos botecos brasileiros, e presente na costa nacional, esse peixe está migrando para os pratos da alta gastronomia. Deve-se isso, em parte, à descoberta de seu valor nutritivo.
Ela contém uma grande concentração de ômega 3, em quantidades ainda maiores que o primo nobre, o salmão. A substância ajuda a manter a saúde do coração e auxilia no combate ao envelhecimento. Outra explicação é a tendência do uso de ingredientes mais populares em receitas sofisticadas. "As pessoas estão perdendo o preconceito e percebendo que a sardinha é muito saborosa e pode ser usada em diversas preparações", diz a chef Fabiana Caffaro, do restaurante Anita, em São Paulo.
No Antiquarius, renomado restaurante do Rio de Janeiro e com filial paulistana, a sardinha é servida à moda portuguesa: assada com rodelas de batatas cozidas, pimentões, azeite, sal, alho e vinagre de vinho branco. "Importamos de Portugal, onde é maior e mais suculenta", explica o maître Manoel Pires. O prato é um dos preferidos do cantor Ed Motta, 37 anos, fã de sardinha fresca. "Sugiro que ela seja acompanhada por uma taça de champagne", diz ele, para não deixar dúvidas sobre o novo status da iguaria, mais acostumada a fazer trio com cerveja e samba.
"Importamos de Portugal, onde esse peixe é maior e mais suculento"
Manoel Pires, maître do Antiquarius
O apreço independe da nacionalidade. No restaurante japonês Kinoshita, em São Paulo, o chef Tsuyoshi Murakami agrada aos clientes com sushis de sardinha. O italiano Tappo Trattoria, também em São Paulo, oferece uma pasta com le sarde, que também leva erva-doce, tomate, uva passa e pinole. O chef boliviano Checho González, há quase 30 anos no Brasil, gosta de comer sardinha com rodelas de cebola, tomate, azeite e sal, colocados num pão crocante. "O brasileiro está ficando mais aberto a esse prato", diz ele.
O fato de estar em menus sofisticados não tirou o peixe dos cardápios mais populares – como os do Beco da Sardinha, no centro do Rio, onde é preparado empanado e frito. Devido à forma que adquire ao ser cortado em filés, chega a ser chamado de "frango marítimo". Segundo a nutricionista Verônica Figueiredo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a melhor forma de saborear a sardinha é na versão enlatada ou cozida na panela de pressão. Na opinião da especialista, assim ela preserva intactas suas propriedades. "É um alimento acessível com valor nutricional", diz.