07/09/2008 - 10:00
É possível que nenhuma campanha municipal do País se desenvolva com um clima mais quente que o de Fortaleza. Na quarta cidade brasileira em população, com quase 2,5 milhões de habitantes, temperatura média de 26ºC, o termômetro político está fervendo. Na tradicional praça do Ferreira, no centro da cidade, nas rodas de conversas e apostas, não se trata de outra coisa: o confronto entre a "Lôra" e a Morena. A Luizianne foi boa parlamentar, mas não estava preparada para governar "Lôra" é como as pessoas conhecem a prefeita Luizianne Lins, e Morena é como foi batizada nas ruas a senadora Patrícia Saboya (PDT). A polarização eleitoral é tão grande que qualquer desavisado não imaginaria que são nove os postulantes à cadeira de Luizianne.
As duas parecem dividir o que a cidade – e a política local – tem de positivo e de negativo. Para começar, essa disputa superou as duas principais lideranças do Estado: o governador Cid Gomes, que se comprometeu a retribuir o apoio recebido de Luizianne na sua eleição, e seu irmão, o deputado Ciro Gomes, ex-marido de Patrícia Saboya. Antes mesmo da oficialização das candidaturas, Ciro disse que "a cidade virou um puteiro a céu aberto", numa alusão ao crescimento da prostituição na capital. Noutro episódio, houve uma ironia em relação à atual e à ex-mulher de Ciro. Numa charge política, publicada num jornal local, ele e a senadora Patrícia Saboya aparecem assistindo à novela A favorita, da Rede Globo. Na cena, estão as atrizes Claudia Raia e Patrícia Pilar – esta última, atual mulher do parlamentar. Ciro então olha para Patrícia, a Saboya, e diz: "Mas você é a favorita." O mote pegou, Ciro repetiu o slogan nos palanques e os defensores da Morena agora só a chamam de "a favorita". A senadora alega que tudo não passa de elogios de Ciro, com quem ela tem três filhos. "Não é bem assim, o Ciro fala muito", minimiza. Quanto "ao puteiro a céu aberto", ela não defende a expressão do deputado, mas garante que a prostituição na capital atingiu níveis alarmantes. "A Luizianne foi boa parlamentar, mas não estava preparada para governar", disse ela. A prefeita se defende: "Isso é um desrespeito com as mulheres da cidade e com as prostitutas."
Há quatro anos, a "Lôra" venceu uma eleição na qual nunca foi a favorita. Agora, inicia a campanha com um grande problema. O governador Cid Gomes (PSB), irmão de Ciro, prometeu apoio à sua reeleição, mas queria indicar o vice na chapa. Acordo fechado, Cid sugeriu o vereador Tim Gomes (PHS), presidente da Câmara Municipal, mas o nome foi vetado pelo PT local. Indignado, Cid nem sequer compareceu à convenção de lançamento da candidatura de Luizianne, no domingo 29. Os petistas então indicaram um candidato-tampão – o presidente do PT municipal – para preencher a chapa até que seja encontrada uma saída para o impasse. Para o cientista político Francisco Moreira, professor de sociologia e política da Universidade de Fortaleza, as candidaturas terão, preferencialmente, que disputar os votos da classe média, que está muito insatisfeita com a atual administração. "A prefeita fez bastante pela periferia, mas ignorou o resto da cidade", analisa. Outro componente eleitoral para o qual o professor chama a atenção, e que tem alimentado a guerra de bastidores, é a composição dos palanques eleitorais. Do lado da senadora Patrícia Saboya uniu-se o senador Tasso Jereissati (PSDB) cujo grupo nunca venceu uma eleição em Fortaleza. Como as duas candidaturas são da base aliada de Lula no Congresso, o presidente prometeu ficar fora da disputa. Mas nas ruas Lula aparece ao lado de Luizianne. Pelo menos nos outdoors.