05/10/2005 - 10:00
Um desejo inatingível para a suprema maioria dos políticos brasileiros – o de ter aprovação popular – parece ter se tornado realidade no Rio Grande do Sul. De acordo com uma pesquisa com 1.136 pessoas, retirada do forno dias atrás pelo Instituto Databrain, o governador Germano Rigotto (PMDB) e alguns de seus principais secretários surfam, a 15 meses do final oficial do mandato, numa onda de popularidade rara de se encontrar no resto do País. O desempenho do governo teve avaliação positiva de 67,8% e a atuação pessoal de Rigotto foi aprovada por 67,6%. Cada entrevistado deu ainda uma nota de zero a dez para oito setores da administração gaúcha. A educação teve a melhor média (7,80), seguida por agricultura (7,59), industrialização (7,04) e habitação (6,91). A saúde não está entre os líderes, mas abriga alguns dos projetos mais elogiados do governo: o Farmácia do Estado, que distribui 189 tipos de medicamentos para 90 mil pacientes, e o Primeira Infância Melhor (PIM), para crianças carentes, da vida intra-uterina até os seis anos, elogiado pela Unesco e apresentado na quarta-feira 28 a técnicos do Banco Mundial, em Washington, pelo secretário da pasta, o clínico geral Osmar Terra.
Criado em abril de 2003, o PIM surgiu para dar condições à criança de criar, sobretudo entre zero e três anos, os pilares cognitivos, emocionais, intelectuais e neurológicos necessários ao seu desenvolvimento. “Se esses fatores não forem trabalhados até os três anos, a trajetória desses pequenos fica comprometida para o resto da vida”, esclarece Arita Bergmann, gerente do programa. Ao lado da colega Leila Almeida, Arita comanda um exército de 600 visitantes e monitoras. Pelo menos uma vez por semana, esses profissionais visitam famílias de 23 mil crianças em áreas pobres, a partir do quarto mês de gravidez da gestante. As orientações vão de cursos de massagem em grávidas a aulas de troca de fraldas para os papais, passando por programas de alimentação, medicamento, pré-natal e acompanhamento social. Num Estado em que uma em cada quatro crianças de zero a seis anos está fora de creches e escolas, a meta de alcançar 100 mil do 1,074 milhão de gauchinhos nesta faixa etária será bem-vinda. Uma vantagem: o custo anual por criança é de R$ 500, dez vezes menor do que o de uma vaga em creche.
Cidadania – Outro ponto importante do projeto é a integração da família. “Meu marido é outro pai agora, com a Fernanda”, festeja Katiane Vieira, 29 anos, com a caçula de dois meses no colo, ao lado das assistentes Miriane Drumm e Marlene Dornelles, numa casa simples do bairro Mathias Velho, em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre. Às vezes, os resultados chegam acompanhados de saias-justas. Coordenador do PIM em Canoas, o médico Carlos Alberto de Azevedo será padrinho de BH, dois anos, o primeiro “filho” do PIM. Aceitou o convite depois que o pai abandonou a mãe e um tio anteriormente convidado foi preso. Em outro caso, uma família recebeu um respirador para um bebê. Com a luz cortada por falta de pagamento, o pai, assaltante, não pensou duas vezes: tascou um “gato” no barraco e ligou a engenhoca. A vida da pequena estava em jogo – e a visitante do programa, obviamente, fingiu não ter visto o atalho que trouxe a luz.
Na educação, a ordem, num Estado que possui, segundo a Unesco, o melhor sistema de ensino fundamental público do País, é levar ao extremo a relação dos 804 mil alunos (os municípios possuem outros 730 mil estudantes) e dos pais com os 92 mil professores e diretores das 3.002 escolas estaduais. O Rio Grande do Sul investe 35% do orçamento no setor, dez por cento a mais que a média dos outros Estados. Há programas como o Escola Aberta para a Cidadania (100 mil pessoas em atividades aos sábados e domingos), o Alfabetiza Rio Grande (94,6 mil alfabetizados num Estado que já tem a menor taxa de analfabetismo do País, cerca de 4%) e o retorno dos jogos escolares, atualmente em fase final, que mobilizaram 390 mil alunos atletas em todas as cidades gaúchas.
Na agricultura, apesar da perda absurda de dois terços dos grãos da última safra, colhida entre janeiro e maio, fruto nefasto da pior seca no Estado nos últimos 60 anos, há elogios para os projetos Troca Troca de Sementes e Tá no Prato. No primeiro, criado pelo secretário Odacir Klein, o pequeno produtor recebe sementes de última geração para milho e cebola, planta e paga a dívida depois da colheita, com um subsídio inicial de 27,3%. Mas não tira dinheiro do bolso: a moeda é parte do milho colhido. Na safra colhida no ano passado, o Estado deu desconto de 50% no pagamento por causa da seca. Neste ano, o rigor da estiagem elevará o abatimento para 80%. O segundo é um programa de orientação nutricional e prevenção de desperdício de alimentos. Professores ensinam técnicas de reaproveitamento e distribuem, por ano, mais de um milhão de quilos de hortigranjeiros e 100 mil quilos de pão, iniciativa elogiável num país que pulveriza R$ 12 bilhões anuais em desperdício de alimentos. Completam o pacote um arrojado programa de habitação, com a construção de casas até para índios, e outro de industrialização e atração de novos negócios, com R$ 15,7 bilhões em investimentos em 183 projetos até agora, grande parte na região da Metade Sul, fronteira com o Uruguai. Os gaúchos agradecem.