03/12/2010 - 21:00
Na semana em que se comemorou o Dia Internacional do Povo Palestino (29/11), é oportuno lembrar a tese do orientalista palestino Edward Said. Num esforço de atualização das questões da cultura árabe na contemporaneidade, Said afirma que, desde os mais remotos tempos, se criou uma visão distorcida do Oriente como um “outro”. Essa tentativa de diferenciação acabou por favorecer a presença de estereótipos distorcidos. Esse é o ponto de vista ideal para se pensar alguns dos trabalhos da exposição “Miragens”, no CCBB Rio, que apresenta um panorama da produção contemporânea de alguns dos mais representativos artistas de origem árabe hoje.
Com curadoria da cubana Ania Rodríguez, a exposição apresenta 58 obras que buscam desconstruir equívocos sobre a história, a religião e questões como a mulher na sociedade islâmica. “É um desafio. Este tema está no centro de debates na mídia e em outras instâncias, pois essas culturas têm tradições com um peso muito grande. Além disso, possuem grande força na produção da arte contemporânea atual de seus países”, diz a curadora.
As iranianas Shirin Neshat e Shadi Ghadirian são exemplos de artistas que contribuem para a reconstrução do olhar sobre o Oriente, principalmente no que diz respeito à figura do feminino. As obras de Shadi fazem um interessante deslocamento de imagens fotográficas feitas em estúdios do século XIX e que procuravam afirmar um ideal de mulher. Um exemplo é uma foto da série “Ghajar” (foto), que retrata uma mulher usando trajes típicos nos moldes das antigas fotografias tradicionais, porém portando um objeto típico do Ocidente, um microsystem, próximo a sua cabeça. Shirin, conhecida por suas narrativas audiovisuais que contrapõem simultaneamente imagens do Oriente e do Ocidente, apresenta entre outros trabalhos a gravura “Speechless”, parte de sua famosa série “Mulheres de Alá” da década de 1990, em que uma arma surge de dentro de um véu. Já o turco Sener Ozmen é responsável por “Supermuslin”, série de 12 fotografias que traz um homem fantasiado como um Superman, executando rituais de orações do islã. Dentre os artistas, Lúcia Koch é a única brasileira, com uma obra que se apropria das estruturas arquitetônicas presentes nas construções árabes.