15/04/2009 - 10:00
Uma das controvérsias que envolviam o tratamento da Aids era a respeito do momento de se iniciar o tratamento. Muitos especialistas defendiam que isso deveria ser feito o mais cedo possível. Outra corrente argumentava, porém, que o uso de remédios contra o HIV antes do aparecimento de sintomas poderia ser uma exposição desnecessária aos efeitos colaterais das drogas – entre eles, o aumento do colesterol. Dois importantes estudos divulgados na última semana puseram fim à polêmica. Eles comprovam que o combate ao HIV deve ser, sim, o mais precoce possível.
Essa estratégia é a melhor forma de proteger o sistema de defesa do corpo do ataque do vírus. Os principais alvos do HIV são as células CD-4, integrantes desse sistema. Ele as usa para se replicar e acaba destruindo- as. É por isso que, à medida que o vírus se multiplica, a resistência imunológica fica cada vez mais enfraquecida.
O que as pesquisas confirmaram foi que, quanto mais cedo o vírus for enfrentado, mais preservadas ficam as defesas e maior é a sobrevida dos pacientes. "Durante anos começamos a terapia quando o quadro imunológico já estava comprometido. Agora temos evidências de que a instituição precoce da terapia salva vidas", afirma Mari Kitahata, da Universidade de Washington, autora de um dos trabalhos.
No estudo, feito com 17 mil pacientes, ela concluiu que aqueles que começaram o tratamento quando ainda apresentavam mais de 500 células CD-4 por milímetro cúbico de sangue (cel/mm3) tiveram 94% mais chances de estarem vivos no final dos nove anos em que durou o trabalho. Entre os que começaram a se tratar mais tardiamente, com níveis de CD-4 entre 351 e 500 cel/ mm3, apenas 69% desfrutavam da mesma possibilidade.
RÁPIDO É preciso evitar que o HIV destrua as defesas do corpo
O outro trabalho analisa diversos estudos envolvendo mais 45 mil pessoas na Europa e América do Norte e dá resultados parecidos. As conclusões devem mudar a conduta atual, segundo a qual a terapia deve ser iniciada quando a contagem de CD-4 é inferior a 350 cel/mm3. Na opinião do infectologista Jamal Suleiman, do Hospital Emílio Ribas, de São Paulo, algumas questões ainda precisam ser solucionadas. Uma delas é como fazer com que o paciente não abandone o tratamento por causa dos efeitos colaterais. Para Mari, esse é um problema menor: "Os efeitos colaterais do HIV são maiores. Eles são a morte."