i107333.jpg

ANIMAÇÃO Shrek, em cartaz em Nova York, é a estreia da
produtora DreamWorks, de Steven Spielberg, no rentável negócio
dos musicais da Broadway

No auge do entretenimento globalizado, um blockbuster de Hollywood não conta apenas com a sua exibição em cinemas para arrecadar milhões de dólares. Além da bilheteria, entra no faturamento a quantidade de DVDs que serão vendidos alguns meses após o lançamento e o número de vezes que ele será exibido na televisão. Agora, mais uma fonte de renda passou a ser considerada: os royalties vindos da adaptação de filmes para os palcos e, se possível, como musicais, já que se cria um novo produto, o CD da trilha sonora. Isso pode ser comprovado na temporada atual da Broadway, em N Nova York, e do West End, o distrito teatral de Londres, onde alguns dos maiores sucessos de público são musicais adaptados de dramas e comédias que fizeram sucesso nas telas. Nos EUA, por exemplo, o musical Shrek disputa espaço com o concorridíssimo Rei Leão, levando para o teatro a briga cinematográfica entre as grifes Walt Disney e DreamWorks. Outro musical bem sucedido é Billy Elliot, feito a partir do filme homônimo de Stephen Daldry, que ganhou músicas de Elton John na sua versão teatral e é o segundo espetáculo mais visto atualmente em Nova York. Com montagem diferente, trata-se do mesmo musical que há três anos congestiona o Victoria Palace Theatre, em Londres. Na capital inglesa, outro filme cultuado também tem sua trama apresentada com muita dança, luz, cor e música ao vivo: Priscilla, a rainha do deserto.

Como escreveu o libretista Mac Rogers ao comentar o fenômeno na revista virtual Slate, "familiaridade vende". E, no caso, os produtores da Broadway e do West End estão preferindo histórias já testadas pelos multiplex. O diretor Cláudio Botelho (que assina com Charles Möeller A noviça rebelde e 7, entre outros) acredita que se está diante de um novo filão do show business. Com direção de Julie Taymor, a mesma de Rei Leão, já se encontra em andamento a produção de Homem-Aranha, com trilha sonora do U2 e estreia agendada para janeiro de 2010. Mais 12 títulos foram anunciados, e vão desde adaptações óbvias, por já serem em si musicais (caso de Flashdance e A roda da fortuna), até comédias românticas e tramas de aventura que ninguém esperava ver um dia nesse formato (como Sintonia de amor, estrelado por Tom Hanks e Meg Ryan, ou Prenda-me se for capaz, de Steven Spielberg).

i107334.jpg

COR E DANÇA Billy Elliot (acima, à esq.) custou mais caro que o filme homônimo e traz músicas de Elton John. Priscilla tem trilha de hits da discoteca, num fácil apelo de sucesso

Esse fenômeno se dá pela carência de novos autores? Botelho diz que não: "Há muitos e bons criadores. É apenas uma nova vertente." Mesmo porque não basta colocar os personagens de um filme para cantar e dançar. É preciso transformar a trama em um encadeamento perfeito de situações, recriar a magia, transpor o enredo para outra linguagem, completamente diferente daquela do cinema. O resultado chega a ser melhor. O diretor Stephen Daldry, por exemplo, acha que a versão cênica de Billy Elliot é bastante superior ao filme. Foi pensando em se superar que ele assumiu o desafio proposto por Elton John, dono da ideia de musicar a trajetória do menino de uma comunidade de mineradores que sonha em ser bailarino. Na época, Daldry sentiu um frio na espinha, porque sua obra era essencialmente realista. E o medo de fracassar foi grande.

Montar um musical costuma atrair investimentos tão altos quanto um filme. Billy Elliot custou duas vezes mais. Há três anos, o orçamento médio de uma produção da Broadway ficava em torno de US$ 10 milhões. No caso de Homem-Aranha, estima-se budget de US$ 40 milhões e um dos motivos é certamente cachê do U2, cujo nome nos letreiros agrega ao espetáculo um novo público: o roqueiro. É a mesma estratégia adotada pela montagem de Ghost, prevista também para 2010, que traz na trilha sonora Paul Stewart, da extinta dupla Eurythmics. Priscilla, que só na Austrália atraiu mais de um milhão de espectadores, livrou-se desse gasto extra. As canções foram escolhidas entre os maiores hits da era das discotecas. Mais oneroso foi levar para o palco o ônibus no qual as drag queens viajam pelo deserto: o veículo pesa oito toneladas, mede oito metros de comprimento, gira 360 graus e é todo iluminado por LEDs que mudam de cor de acordo com o clima da festa.

 

i107335.jpg