Sem que quase ninguém se desse conta, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) contemplou a retomada da usina nuclear de Angra III, paralisada há vários anos. Deve-se esperar muito barulho de ambientalistas radicais. Alguém já lembrou o clima dos anos 70, quando, em plena ditadura, cientistas e intelectuais mobilizaram a sociedade civil para protestar contra a assinatura do Acordo Nuclear Brasil–Alemanha, que previa a construção das usinas Angra I, II e III. Os argumentos então esgrimidos eram poderosos: o País ia comprar uma caixa preta e a energia atômica era algo intrinsecamente perigoso, sujo e caro. Como se isso não bastasse, o acordo deixava a porta aberta para que os militares brasileiros desenvolvessem a bomba atômica. E tudo isso muito antes do desastre de Chernobyl, em 1986, e da “onda verde” que tentou reverter a opção pela energia nuclear em vários países da Europa.

Mas, de lá para cá, muita água rolou sob a ponte. O agravamento do aquecimento global, provocado pelas emissões de CO2 (dióxido de carbono), levou muitos ecologistas renomados, como James Lovelock e Patrick Moore, a perceber que a energia nuclear pode deter o efeito estufa, porque é muito mais limpa, barata e segura do que as alternativas baseadas em combustíveis fósseis. O lixo radioativo pode ser controlado e Chernobyl foi um acidente de percurso. O medo do nuclear foi mais um produto da guerra fria e de Hollywood do que fruto de debates racionais ou pesquisas científicas.

Já o Brasil renunciou à bomba e assinou o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP). Suas usinas são inspecionadas pela Associação Internacional de Energia Nuclear (AIEA). Mas as viúvas da guerra fria e os “ecoxiitas” acham que a construção de Angra III é o prenúncio do Apocalipse. Enquanto lutam contra moinhos de vento, o aquecimento global continua aumentando.

Cláudio Camargo é Editorialista da Revista ISTOÉ