Um dos mais badalados bares de São Paulo, o Frangó comemora 18 anos com a publicação do livro Frangó – um boteco de alma própria, com textos de Ricardo Castilho e fotos de Ricardo D’Angelo. Templo da cerveja, a casa se tornou nacionalmente conhecida pela variedade de garrafas que fazem de suas prateleiras verdadeiros oratórios deliciosamente profanos. No início dos anos 90, foi um dos primeiros bares a aproveitar a abertura do mercado para garimpar em países como Bélgica, Alemanha, Irlanda e Inglaterra as bebidas mais cativantes. Mostrou aos brasileiros que há mais coisas entre o céu e a mesa do que as loiras e as pretas convencionais. Hoje, possui um saboroso portfólio com 150 marcas de uma dezena de países.

O boteco começou como rotisserie, em uma casa tombada pelo patrimônio
histórico na praça da Matriz da Freguesia do Ó, bairro com clima de interior a
dez quilômetros do epicentro boêmio de São Paulo na região de Pinheiros e
Vila Madalena. “Tínhamos apenas um balcão e vendíamos tortas e massas
para viagem. Os frangos grelhados tornaram-se sensação e chegamos a vender
180 em um único domingo”, lembra Valdecyr Piccolo, decano do boteco. É ele
quem abastece a cozinha com ingredientes de primeira linha. “Tivemos de colocar mesas na calçada para que os clientes pudessem esperar o preparo dos frangos. Alguns passaram a almoçar aqui mesmo”, diz. Pouco tempo depois, a sala da casa virou restaurante e as primeiras cervejas começaram a chegar. No começo, a variedade se restringia a todas as marcas nacionais existentes, da Cerpa à Serra Malte. “Assim que a importação de cervejas se tornou possível, desenvolvi menus com tipos pouco encontrados aqui, como as ale, de alta fermentação, e as weizenbier, feitas com trigo”, conta Cássio, filho de Valdecyr. A vocação para a badalação veio em 1991 com a chegada do terceiro sócio, Norberto D’Oliveira, que esticou o horário de funcionamento.

Algumas das cervejas da casa são exclusivas, como as de Cantillón, cervejaria de Munique que deixa seus produtos envelhecerem por três anos em barris de carvalho. O carro-chefe do estabelecimento, no entanto, é o chope Erdinger. “Também temos a Guiness, o mito inglês, e belgas raras como as trappistes, produzidas em monastérios. Existem apenas seis em atividade. Importamos de cinco”, diz Cássio. Para acompanhar as tulipas, a dica é pedir uma porção de coxinhas de frango com catupiry elaboradas por dona Maria Brunhara Piccolo, mulher de Valdecyr e mãe de Cássio. São vendidas 30 mil ao mês. Durante seu seqüestro, o publicitário Washington Olivetto só pensava em poder se deliciar novamente com uma delas. “O segredo da coxinha? Ela não tem varizes”, brinca Cássio.

Apaixonado por cerveja, Cássio comemora a maturidade da indústria nacional,
que finalmente decidiu apostar em produtos diferenciados. “O engarrafamento
e a distribuição de cervejas artesanais como as da Eisenbahn, de Blumenau, e
a concorrência das importadas estimularam a AmBev a investir nesse filão”,
diz. A Bohemia lançou a Escura, tipo dunkel, e a Weiss, de trigo. Em agosto, surpreendeu mais uma vez com a Confraria, primeira cerveja tipo abadia do
Brasil. O Frangó vende todas!