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Implacável como sempre, o tempo vai dizer se o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é para valer ou não passa de uma grande jogada de marketing, como o Fome Zero. Projeções do Tesouro Nacional apontam que a economia vai crescer 4,5% neste ano e 5% nos próximos até 2010, como supõe o PAC. Mas depois vem o pé no freio: a mesma bola de cristal previu que o crescimento do PIB perderá fôlego quando terminar o mandato do presidente Lula, passando para 3,65% em 2011, 3,64% em 2012 e 3,51% em 2013. Que bom que Lula, o democrata, está disposto a ouvir sugestões para melhorar o programa. Em reunião com os líderes dos partidos da base aliada no Congresso, o presidente declarou que “o PAC é uma obra inacabada”. É mesmo. Mais do que isso, é uma obra incompleta: não há uma única medida que estimule a melhoria da educação, sem a qual não há crescimento acelerado que vire desenvolvimento sustentável. No discurso de anúncio do PAC, Lula só falou em educação para dizer que este assunto fica para depois. Os ministros Guido Mantega e Dilma Rousseff nem ao menos mencionaram a palavra. Sem fornecer educação de qualidade aos seus cidadãos, o Brasil continuará sendo uma obra inacabada. E Lula entrará para a história como mais um presidente que fracassou em libertar seu povo da ignorância, dos baixos salários e do desemprego. O genial Michelangelo Buonarroti também deixou obras inacabadas. Em Florença, na Galleria dell’Accademia, quatro esculturas incompletas emocionam quase tanto quanto a estátua de David. São os prisioneiros, escravos que iriam decorar a tumba do papa Júlio II. Este ficou mais conhecido por seu ego desmesurado do que por sua santidade. Hoje, 443 anos depois, os escravos de Michelangelo ainda tentam se libertar do mármore. Sua obra inacabada atravessará os tempos. E a sua, presidente Lula?

 

Milton Gamez é Editor da Revista ISTOÉ