Os moradores de Santander, cidade do Norte da Espanha e principal vizinha do país basco, desfrutam muitas coisas que o mundo cobiça: tranquilidade, trânsito e poluição zero, árvores e jardins em todos os lugares, céu e mar azuis, ninguém mendigando pelas ruas, bancos para descansar, nenhuma buzina e nenhum stress, tudo honrando suas origens de vila de pescadores. São 200 mil pessoas que, aparentemente, não apressam o passo nem quando estão com pressa. E que, muito provavelmente, mantiveram a saudável tradição quando souberam que, através de uma enorme aquisição financeira – do banco inglês Abbey pelo grupo Santander ao preço de US$ 14 bilhões – sua cidade ficou mais rica, e o banco espanhol tornou-se o oitavo do mundo. Mais: que quase ao mesmo tempo, no encontro “O melhor está por vir”, que acontecia no esplêndido palácio que abriga a não menos esplêndida Universid Internacional Menéndez Pelayo, acabava de surgir uma idéia audaciosa esboçada pelo ministro Miguel Angel Moratinos, de Assuntos Exteriores: a proposta de reproduzir no continente latino-americano um acordo semelhante ao da União Européia para, mais do que ampliar e defender seu mercado, proporcionar à região a representatividade que merece.

Moratinos, o ministro socialista do presidente socialista da Espanha, José Luis Rodríguez Zapateiros, garante que a Espanha daria um grande empurrão nessa idéia, principalmente porque o presidente Lula e o presidente Zapateiros “têm o mesmo marco cultural”. Segundo ele, o Brasil em primeiro lugar e a América Latina como um todo em seguida são prioridade nos investimentos das empresas espanholas. São investidores que – ele disse – não fazem as malas e caem fora a qualquer abalo financeiro. “É uma relação consolidada em criar condições para o desenvolvimento.” Em troca, o Brasil teria que fazer reformas estruturais, o que significa investir na infra-estrutura, promover uma reforma tributária séria, remover qualquer resquício da política neoliberal e, prioritariamente, atacar com máximo empenho a solução dos problemas sociais, elemento essencial para o crescimento – inclusive das empresas. Não dá para sustentar crescimento mantendo 48% da riqueza dos países da região nas mãos dos 10% mais ricos..