A segunda-feira 2 passará para a história da gigante Embraer como o dia em que a companhia pousou definitivamente no maior mercado de defesa do mundo, os Estados Unidos. Quarta maior fabricante de aviões do planeta, a empresa brasileira foi anunciada como vencedora da concorrência para fornecer ao novo sistema de defesa americano – o Aerial Common Sensor (ACS) – aviões baseados na plataforma do jato comercial ERJ 145. A montagem e a adaptação das aeronaves ao gosto de Tio Sam acontecerá na nova fábrica de Jacksonville, na Flórida, que já está sendo construída. O resultado final será muito próximo ao do modelo 145-AEW&C, utilizado pela Força Aérea Brasileira (FAB) no Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam). O valor total do contrato, firmado com um consórcio de fornecedores liderado pela Lockheed Martin, chega a US$ 7 bilhões e prevê a venda de 57 aviões no período de 20 anos. Só a participação da Embraer no negócio deverá ficar entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2 bilhões.

“Esse contrato é uma conquista de grande relevância que vem coroar o esforço da companhia em aumentar sua receita na área de defesa”, disse Maurício Botelho, presidente da empresa, que tem sede em São José do Campos (SP). Aumentar os negócios no mercado de defesa aérea é um antigo sonho de Botelho. Há três anos, a companhia persegue melhores resultados nessa área. Já vendeu aviões militares para a Grécia e para o México, além do Brasil. A entrada nos Estados Unidos, maior comprador do planeta, foi um achado. Em 2003, 20% do faturamento da empresa veio do setor militar, 10% do segmento corporativo e 70% do comercial. “Esse negócio abre outras oportunidades. Fomos aceitos como fornecedores no maior mercado de defesa do mundo”, comemora Botelho.

O time de empresas do consórcio reunido pela Lockheed Martin derrotou gigantes
do setor de defesa americano como a General Dynamics, que fabrica caminhões, aviões de combate e até porta-aviões, e o Northrop, consórcio concorrente que
tinha no grupo a fabricante de radares Gulfstream. A primeira fase do contrato
prevê a entrega de cinco aeronaves completas para testes em 2006 e está orçada em US$ 879 milhões. Além da Embraer e da Lockheed Martin, fazem parte do consórcio vencedor a Harris GCSD, que vai fornecer os equipamentos de transmissão, e a Management & Data Systems, responsável pelos sistemas de engenharia e softwares.

O novo sistema de vigilância dos EUA vai substituir aviões e equipamentos antigos, como o Guardrail, do Exército, e o Aries II, da Marinha. A escolha pelo jato 145 da Embraer foi consequência da experiência das aeronaves na vigilância da Amazônia. Além disso, contribuiu, e muito, para o sucesso desses aviões no mercado comercial. Mais de 800 unidades já estão em operação em todo o mundo, com mais de 5,5 milhões de horas de vôo. Essa plataforma acumulou um impressionante histórico de confiabilidade e segurança e baixos custos.

A vitória em solo americano, graças a uma tecnologia desenvolvida junto com a americana Rayteon para os aviões vendidos à FAB para o Sivam, segundo Botelho, aumenta as chances de a empresa brasileira se colocar melhor na concorrência para vender à Aeronáutica o avião francês Mirage-2000BR, que será produzido no Brasil em associação com a Dassault. “É evidente que é o mesmo conceito que está por trás”, diz o executivo.

As ações da Embraer reagiram bem ao negócio bilionário com os americanos.
Na terça-feira 3, um dia após o anúncio da vitória na concorrência, os papéis
da companhia subiram em média 4%, depois de terem registrados na véspera
uma queda de 2,75%. Com o negócio, a Embraer consolida seu lugar entre
os principais exportadores brasileiros. Hoje, só perde no ranking das vendas externas para a Petrobras. No final de junho, a empresa contabilizava mais de
US$ 10 bilhões em pedidos firmes – como são chamadas as encomendas com chances de vingar. Só do modelo ERJ são 920 unidades solicitadas. O sucesso do aparelho se deve, segundo a Embraer, a seus baixos custos operacionais, de manutenção e de treinamento da tripulação. Qualidades que agora ajudarão na proteção do território americano.