21/09/2005 - 10:00
As CPIs são um mal necessário. Elas paralisam o Congresso, mas estão se revelando úteis na busca da punição aos deslizes cometidos no Parlamento. E como lá os deslizes são cometidos até pelo presidente da casa, o Congresso estava mesmo precisando parar um pouco para cuidar de sua péssima imagem. A cassação do deputado Roberto Jefferson mostra isso e dá um claro sinal de que os integrantes do Congresso estão preocupados com a má fama de seu local de trabalho e de que está em andamento a necessária faxina no recinto. Até mesmo o deputado Luiz Antonio Fleury Filho disse, depois de a Câmara dos Deputados ter degolado seu ex-colega do PTB, que a partir de agora a porteira está aberta, quem não quiser ser cassado que renuncie logo.
Mas, se as CPIs estão se mostrando necessárias, o mesmo não se pode dizer dos exageros cometidos por alguns de seus integrantes. Embevecidos com as câmeras de tevê transmitindo ao vivo as sessões, esses parlamentares extrapolam o ato de inquirir, inerente à Comissão Parlamentar de Inquérito, e invadem o terreno da tortura psicológica e até da agressão abjeta. Da arrogância juvenil à falta de educação senil, não são poucos os exemplos que só fazem piorar a precária imagem do Congresso. É gente movida por intenções eleitoreiras que faz tudo para aparecer e ter seus nomes estampados em revistas e jornais. Raros são os momentos em que a testemunha ou o acusado inquirido pode se defender, como foi o caso do ex-ministro Luiz Gushiken, na quarta-feira 14. A ele só faltou a katana, a temida espada do samurai, para devolver as intimidações. O resto ele usou com destreza exemplar. Para José Genoino foi reservado o constrangimento, ou melhor, a incrível cafajestice cometida por um deputado, que levou pelo braço para o recinto da CPI o militar que prendeu o ex-presidente do infausto Partido dos Trabalhadores quando este era guerrilheiro, 30 anos atrás.
Em outra sessão de outra comissão, o aguerrido advogado Roberto Podval, que acompanhava um cliente seu, defendeu-se à altura das agressões, mas teve o microfone desligado. A propósito, ele é o entrevistado das páginas vermelhas desta edição e conta, aos microfones ligados de ISTOÉ, o que acha das CPIs.
Mas, apesar de tudo isso, o andar da carruagem parece que está desmontando, felizmente, a crença popular de que tudo ia acabar em pizza e que continuaríamos vivendo no país da impunidade. E a – até pouco tempo atrás – inimaginável e inacreditável prisão de Maluf e seu filho Flávio é outra prova concreta disso.