A juventude britânica está mandando o refinamento do célebre humor inglês para o espaço e colocando a brutalidade no cyberespaço. Virou moda entre os adolescentes do Reino Unido a prática do happy slapping (estapeamento feliz, na tradução literal), modalidade de humilhação em que o agressor dá um tapa em alguém enquanto seu cúmplice grava tudo com o celular. Depois, os vídeos são enviados para sites e redes via torpedos ou e-mails. Segundo a organização Bullying Online (www.bullying.co.uk), esta nova modalidade de bullying – palavra que designa qualquer forma de agressão, seja ela verbal, física ou psicológica, entre colegas – surgiu nos ônibus e metrôs de Londres antes de se alastrar pelas escolas do país.

Em alguns casos, o ato feriu muito mais do que o orgulho das vítimas. No final de julho, uma garota de 13 anos foi estuprada no bairro londrino de Wembley enquanto um amigo do agressor tirava fotos com o celular. No começo deste mês, a rede britânica de notícias BBC informou que Shaun Noonan, um estudante de 14 anos de Ellesmere Port, cidade pequena no noroeste da Inglaterra, se enforcou com a gravata do uniforme depois de ter sido filmado apanhando violentamente. Os pais acharam o garoto a tempo de ressuscitá-lo, mas Noonan morreu seis dias depois no hospital da cidade. Em Bolton, na região de Manchester, o estudante Kyle Parker, 13 anos, foi amarrado a uma árvore por oito colegas dois anos mais velhos. Não bastasse a covardia, os jovens não acharam o vídeo excitante o suficiente e incendiaram a árvore. Parker foi solto sem nenhum ferimento. Três dos agressores foram presos, mas pagaram fiança e estão em liberdade.

A culpa pela disseminação da prática atingiu um velho alvo: a televisão. Segundo especialistas ingleses, programas como o americano Jackass, em que uma turma de amigos fazia barbaridades consigo mesma – desde nadar em fezes até rolar escada abaixo em um carrinho de supermercado –, estimularam os adolescentes a filmar agressões. No Brasil, o programa Pânico na TV inspira jovens a distribuir tapas na cabeça acompanhados do bordão “pedala, Robinho”! A diferença é que, por aqui, ainda não se chegou ao requinte de se registrarem em vídeo as bordoadas.

Para combater o problema, que em geral aparece na forma de tabefes, as
escolas inglesas recomendam aos pais que não comprem celulares com
câmeras para seus filhos. A discussão já extrapolou os limites do Reino Unido.
“É hora de a sociedade ficar atenta à forma como as novas tecnologias estão
sendo usadas pelos jovens”, alerta a americana Juliana Raskauskas, doutora em psicologia da educação. Uma batalha das organizações anti-bullying é para que o termo “happy slapping” deixe de ser usado. “Se você for vítima de um ataque, certamente não vai ficar nada feliz”, resume o educador Jim O’Neill, que propôs a moção contra o termo na Associação Profissional de Professores da Inglaterra, entidade que preside.