Se para alguns dirigir é um prazer, para outros é um transtorno. Imagine um veículo que possa levá-lo para qualquer canto enquanto você, no banco de trás, adianta suas tarefas, redige um documento ou organiza seus compromissos. Equipado com a última palavra em tecnologia, o carro capaz de se locomover sozinho é um sonho antigo que a montadora americana General Motors pretende tornar realidade em 2008.

O engenheiro francês Nicolas Cugnot, que em 1769 foi o pioneiro no uso de motor a vapor num automóvel, ficaria de cabelos em pé se visse o que os engenheiros da GM testam em Rüsselsheim, na Alemanha. O protótipo é baseado no Opel Vectra, um carro de porte médio que combina câmeras de vídeo com sensores que se orientam pelas linhas que demarcam as faixas das ruas.

O carro robótico utiliza raios laser para medir a distância e a velocidade dos carros a sua volta, e sensores infravermelhos nas laterais, para manter as rodas alinhadas às faixas. Presa ao vidro dianteiro, abaixo do espelho retrovisor, a câmera dá uma visão completa da estrada, mesmo quando as faixas estão apagadas. No painel do carro, o computador de bordo funciona como o cérebro do sistema. Ele comanda desde a aceleração e a frenagem até a comunicação, através de satélites, com uma central que indica o melhor trajeto.

Sistemas de piloto automático já são realidade em modelos de luxo da Jaguar e da BMW. Em geral, eles usam radar ou raios infravermelhos para medir a distância do carro da frente, que é mantida constante por um sistema automático de aceleração e frenagem. O grande problema é que o controle automático costuma falhar em velocidade acima dos 30 quilômetros por hora.

Corrida no deserto – O que a GM fez foi reunir várias funcionalidades e reduzir as falhas típicas dos carros auto-suficientes. Uma delas é a lentidão do sistema de transmissão de ondas de rádio que avisa sobre os obstáculos. “Se havia um cruzamento a dez metros de distância, não dava tempo de o sistema fazer as alterações para o carro parar, e ele acabava batendo”, conta Geraldo Gardinali, engenheiro de freios eletrônicos da Bosh. Para superar essa falha, a GM substituiu as ondas de rádio pelo laser, que é mais veloz.

O maior empecilho para os carros auto-suficientes está na adaptação das ruas. A expectativa é que nas faixas sejam colocados sinais emissores que serão lidos pelo infravermelho do carro. Esses veículos enfrentam ainda entraves sociais e legais. Na Europa e nos EUA, onde eles devem fazer sua estréia, não há legislação prevista em caso de acidente causado por um motorista-robô.

Para acelerar a inovação na indústria de automóveis-robôs, a agência de pesquisa do Pentágono – o serviço de inteligência americano – inventou o campeonato Grand Challenge. Criada no ano passado, a corrida no deserto de Mojave ia de Barstow, na Califórnia, até Las Vegas. O prêmio de US$ 1 milhão seria entregue aos criadores das máquinas que se guiassem sozinhas por 280 quilômetros. Dos 15 competidores, quem chegou mais longe foi um veículo da Universidade Carnegie Mellon, que pifou depois de 12 quilômetros.

O próximo embate será no dia 8 de outubro, quando haverá nova edição da corrida, agora com a bolada de US$ 2 milhões. A aposta está em Stanley, jipe Touareg da Volkswagen feito em parceria com a Universidade de Stanford. Equipado com programas e sensores para identificar e desviar dos obstáculos, ele tem sete processadores Pentium, sistema de radares e amortecedores reforçados. Para máquinas como essa, enfrentar a poeira do deserto é uma prova de fogo. Como os carros-robôs foram projetados para deslizar sobre estradas em bom estado físico e de segurança, devem demorar para desfilar nas pistas brasileiras.