21/09/2005 - 10:00
A onipresença do primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi acabou gerando uma obsessão nacional, um ódio tão devotado a ele que inspira em alguns intelectuais a fantasia de seu assassinato. O homicídio Berlusconi, Quem matou Berlusconi?, Kill? e Fui eu são os últimos livros sobre o “assassinato” de Silvio Berlusconi. Aliás, o boom literário em volta do odiado premiê canastrão é surpreendente: as livrarias italianas têm mais livros sobre o magnata-político do que sobre os dois George Bush (pai e filho), João Paulo II e a Al-Qaeda juntos. Com sorriso inoxidável e mais vivo do que nunca, Berlusconi embarcou na onda e sua editora, a Mondadori, publicou Berlusconi, eu te odeio – as ofensas da esquerda contra o premiê. “Palhaço, bandido, ditadorzinho, imoral, megalomaníaco, extremista” são algumas palavras usadas por 269 celebridades políticas para definir um só sujeito: Silvio Berlusconi. Auto-chacota? Nada disso, pura estratégia de comunicação em vista da campanha para as eleições de maio de 2006.
As pesquisas de opinião atualmente não favorecem o governo de direita. Os problemas econômicos que afligem os italianos provocam o descontentamento geral, tanto dos trabalhadores quanto dos empresários. Segundo os economistas, a Itália está vivendo uma das piores crises desde o fim da Segunda Guerra. No entanto, não é só o bolso vazio do povo que enche o prato de críticas ao primeiro-ministro italiano. O magnata-político incomoda muita gente. “Berlusconi é como a Aids, quando você conhece, você evita”, ataca Antonio Di Pietro, deputado da coalizão Oliva, de centro-esquerda.
O “assassinato” do premiê, pois, está na moda. Um grupo de dez jovens artistas holandeses criou o musical Everybody for Berlusconi (o título original era Killing Berlusconi) . O espetáculo termina perguntando ao público se ele quer ou não matá-lo. No livro O homicídio Berlusconi, o autor Andréa Salieri duvida que o premiê seja verdadeiro, pois não é possível que um dirigente cometa tantas gafes. A hipótese é que Berlusconi tivesse sido assassinado em 28 de maio de 2001 e que o atual chefe do governo italiano seja um sósia. Já no livro Quem matou Silvio Berlusconi?, Giuseppe Caruso descreve um atentado programado contra o premiê em frente do Teatro La Scala de Milão. Em Fui eu, de Oliviero Beha, um jornalista deprimido é aconselhado pelos amigos a planejar um “Silviocidio”.
“Berlusconi, sempre Berlusconi. Berlusconi como uma obsessão, Berlusconi como fixação, Berlusconi em todos os molhos. Até na Feira do Livro, quando se fala em política, chega a síndrome Berlusconi. Os intelectuais enfeitiçados por Berlusconi,
os jornalistas doentes por Berlusconi, o público disposto a se esquentar só
quando se fala em Berlusconi. É obsessão ou efeito de magia?”, ironiza o
intelectual Pierluigi Battista.