A adolescência não é fácil. Há mudanças no corpo, no humor e no crescimento. Para o tiranossauro rex, que viveu há mais de 65 milhões de anos, no período Cretáceo, não foi diferente. Após décadas de estudo, pesquisadores americanos descobriram que era na puberdade que ocorria o pico de crescimento do dinossauro que foi um dos maiores predadores a pisar a Terra. Entre os 14 e os 18 anos, o T.rex passava de uma para seis toneladas de peso, o que representava ganhar cerca de 2,5 quilos ao dia. Nesse período, o bichano adquiria 70% da sua massa adulta e podia chegar a 14 metros de comprimento e a seis de altura.

Analisando duas dezenas de fósseis de quatro espécies de dinossauros, os paleontólogos descobriram também que os T.rex viviam só até os 30 anos, o que lhes rendeu a alcunha de James Dean dos dinossauros. “Ficamos surpresos ao saber como eles cresciam rápido e morriam tão cedo”, disse Gregory Erickson, um dos autores do estudo publicado na revista científica Nature da semana passada. A taxa de crescimento do T.rex só é comparável a do elefante moderno. Com a diferença de que a expectativa de vida de um elefante é de 70 anos.

Além de povoar o imaginário de adultos e crianças com seu porte monstruoso, qual o interesse em saber como vivia o T.rex? “Ele estava no topo da cadeia alimentar, era o representante mais importante dos maiores carnívoros”, explica o paleontólogo Diógenes de Almeida Campos, do Museu de Ciência da Terra, no Rio de Janeiro. O T.rex é ainda o único dinossauro com número significativo de fósseis em exposição no mundo. São 30 exemplares com idades entre dois e 28 anos. “Na nossa área, isso é muito. Com essa variedade podemos traçar toda a sua curva de crescimento”, diz Alex Kellner, paleontólogo do Museu Nacional do Rio de Janeiro.

A equipe de pesquisadores cortou e analisou os anéis internos que se formam ao redor dos ossos dos fósseis do T.rex. Depois disso, mediram a circunferência do fêmur dos animais para determinar sua massa corporal. “Sobrepondo as informações, achamos respostas para especulações sobre o desenvolvimento desses animais”, afirma Erickson. Um dos fósseis examinados foi Sue, um T.rex de 28 anos considerado o mais antigo e em melhor estado de conservação do mundo, que está em exposição no Field Museum de Chicago, nos EUA. O T.rex, que viveu na América no Norte, era no mínimo 15 vezes maior do que o urso polar, considerado o maior animal terrestre carnívoro da atualidade.

O estudo resolveu uma questão importante, mas reascendeu um dos principais pontos de discussão entre os paleontólogos. Alguns dizem que os T. rex foram os maiores caçadores da pré-história, o que justifica seu papel de destaque no filme O parque dos dinossauros, de Steven Spielberg. Outros dizem que com aquele tamanho, o brutamontes seria incapaz de correr atrás de suas presas, sendo assim, um voraz carniceiro. Uma terceira vertente aposta que os animais eram caçadores de tocaia.

Como ele atingia suas seis toneladas antes dos 20 anos, é bem provável que ele fosse tudo isso: um caçador implacável até a adolescência e um espertalhão que agarrava sua vítima no susto ou se alimentava de restos de outros animais na fase adulta. Essa questão fica para os próximos estudos. Por ora, saber que o T.rex passava por essa crise existencial é o suficiente para explicar a cara de mau e o jeitão de quem adorava uma briga.