Nas próximas duas semanas, Atenas viverá sob duas ameaças de bombas. Uma delas concreta, assustadora, vinda de grupos terroristas como a Al-Qaeda. A outra silenciosa, invisível, mas com um poder de destruição capaz de fazer tremer o maior evento esportivo do planeta. Depois da segurança, o doping é a maior preocupação dos organizadores da Olimpíada na Grécia. Em toda a história dos Jogos, nunca houve cerco tão grande aos que utilizam substâncias proibidas para melhorar o desempenho. “Teremos tolerância zero para o doping”, afirma o médico belga Jacques Rogge, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI). Em Atenas, serão realizados mais de 2,6 mil testes de sangue e urina, 25% a mais do que em Sydney. Os exames são capazes de detectar uma infinidade de substâncias, entre elas a eritropoietina (EPO), o hormônio de desenvolvimento humano HGH e a tetrahidrogestrinona (THG), este último relacionado ao “escândalo” do laboratório Balco (leia quadro). Vários atletas americanos tiveram seus testes positivos para a substância ilegal produzida pelo Balco durante as provas seletivas do atletismo daquele país para a Olimpíada. Entre eles o recordista mundial dos 100 metros rasos, Tim Montgomery. Sua mulher, a campeã olímpica Marion Jones, também está sob suspeita. C.J Hunter, ex-atleta do levantamento de peso e ex-marido de Marion, acusa a velocista de ter competido dopada nos Jogos de Sydney, onde conquistou cinco medalhas. Até hoje, nada foi provado contra Marion, mas ela é um dos medalhões que estão na mira dos técnicos em Atenas.

Nas vésperas do início da Olimpíada, muitos atletas caíram nas redes dos técnicos da Agência Mundial Antidoping, a Wada. O ciclista suíço Oscar Carmen, a ciclista espanhola Janet Puigross Miranda, o canoísta espanhol Jovino González e o fundista irlandês Cathal Lombard tiveram EPO detectado em seu exame. Já em Atenas, o pugilista queniano David Munyasia viu o sonho de disputar a Olimpíada diluído como o catina, o estimulante flagrado em seu organismo.

O velejador Robert Scheidt foi o primeiro atleta brasileiro a se submeter a teste antidoping em Atenas. O procedimento integra o programa do Código Mundial Antidoping, que prevê controle inclusive fora da competição e longe do país-sede. Durante os jogos, 100 pessoas se revezarão 24 horas por dia para realizar os testes nos atletas. Os exames serão feitos sem aviso prévio. Nas competições individuais, passarão pelos testes os que ficarem entre o primeiro e quarto lugares, mais dois atletas por sorteio. Nas eliminatórias e finais, todos os que baterem recorde olímpico ou mundial passarão pelo crivo da Wada. Já nos esportes coletivos, na fase preliminar, um atleta de cada equipe será sorteado para o exame. A partir das quartas-de-final, todas as partidas terão coleta, com dois atletas sorteados.

As drogas evoluem não só para aprimorar o rendimento, mas também para driblar os testes antidoping. Nessa linha, o ideal é que fossem produzidas pelo próprio organismo do atleta, tornando-se assim naturais. A primeira geração desse doping genético, formada, por exemplo, pelo HGH, já está em uso. Num futuro próximo, seria possível, a partir da manipulação de um gene, produzir substâncias ou desenvolver determinadas partes do corpo. O método foi aplicado em ratos numa pesquisa para tratar distrofia muscular. Injetando um gene que bloqueia a miostina, uma proteína que inibe o crescimento dos músculo, o fisiologista americano H. Lee Sweeney fez com que ratos sedentários ficassem até 30% mais fortes. Testes humanos já estão sendo planejados. Cientistas alertam que os primeiros casos de atletas transgênicos devem aparecer na Olimpíada de Pequim, em 2008. Resta saber quem vai levar a melhor nessa disputa.