18/08/2004 - 10:00
Um dos principais fatores que levam uma pessoa a se interessar pelos Jogos Olímpicos em qualquer ponto do mundo é a presença de atletas de seu país nessa gigantesca competição. Por isso, na semana passada, ISTOÉ selecionou, entre os 245 competidores brasileiros, os que podem conquistar uma medalha em Atenas. O outro fator de atração são as megaestrelas internacionais, os super-homens e mulheres maravilhosas que, mesmo de países distantes, passam a ser assunto de conversas e discussões em mesa de bar. Não se surpreenda se, ao chegar no bar preferido no sábado à noite, o tema for um tal de Michael Phelps, nadador americano de 19 anos. Mais ainda, a grande questão será: ele vai ou não superar o recorde de sete medalhas de ouro conseguido por outro americano, Mark Spitz, em 1972, na Olimpíada de Munique. Outros dirão que, na frente de Phelps, estará o australiano Ian Thorpe, 21 anos, o Thorpedo, ganhador de três medalhas de ouro quatro anos atrás, em Sydney, e que agora está disposto a provar que é o verdadeiro rei dos disputados territórios das piscinas. No meio do papo, o nome do corredor americano Maurice Greene, campeão dos 100 m rasos, ex-recordista mundial, vai aparecer, sem dúvida. “O cara é marrento, fica botando aquela língua para fora… Mas é ótimo corredor”, vai falar um “especialista” do boteco. E os amantes do tênis vão torcer para que o Guga cometa o milagre de chegar ao topo do pódio, cientes do favoritismo absoluto do suíço Roger Federer, número 1 do mundo. Finalmente, a veteraníssima tenista supercampeã Martina Navratilova, tcheca naturalizada americana, entrará na conversa. Aos 47 anos, disputará pela primeira vez – e com empolgação juvenil – uma Olimpíada, no torneio de duplas. E com chances de vitória!
O negócio, a princípio, parece papo de maluco. Mas, de sexta-feira 13 em diante – para os gregos, o 13, assim como para Zagallo, é número de sorte – os olhos do mundo, e não apenas o de seus amigos e amigas de bar, estarão voltados para Atenas, o berço do esporte olímpico. O duelo entre Phelps e Thorpe e, por tabela, entre os EUA e a Austrália tem tudo para ser um dos momentos épicos dos Jogos. Para azar do brasileiro Thiago Pereira, inscrito nas mesmas provas, Phelps, um garoto de 19 anos que nas horas vagas se diverte dirigindo o cadillac da mãe pelas ruas de Baltimore, onde mora, no Estado de Maryland, onde mora, é imbatível nos 200m e 400m medley, onde se apresenta nos quatro estilos (costas, peito, borboleta e livre) colecionando recordes mundiais. Vai nadar também nos 200m livres e nos 100m e 200m borboleta, além de três revezamentos.
Thorpe, por sua vez, nadará os 100m, 200m e 400m livre, além de três revezamentos. O australiano não perde nos 400m livre há quatro anos, o que coloca a disputa pelo título de Deus das Piscinas em outro patamar. A briga direta entre os dois vai acontecer nos 200m livre, onde terão ainda que enfrentar o “holandês voador” Pieter van den Hoogenband, medalha de ouro na prova em Sydney. Correndo, ou melhor, nadando por fora rumo à glória estará o russo Alexandre Popov, 31 anos, estrela de outras Olimpíadas, que tentará a vitória nos 50m e nos 100m livre. Para não dizer que a natação é território masculino, a poderosa holandesa Inge de Bruijn, mesmo considerada uma veterana aos 31 anos, espera a hora de mostrar que ainda é a melhor contra as jovens e belas Lisbeth Lenton, da Austrália, e Amanda Coetzer, dos EUA. De qualquer modo, qualquer um desses súditos de Posêidon tem credenciais para subir ao Olimpo.
Nas pistas, Maurice Greene, com suas sapatilhas retratando a bandeira americana, garante que vai repetir a façanha de Sydney, quando ganhou o ouro nos 100m rasos e no revezamento 4x100m. Ele nem se incomoda com as duas derrotas sofridas em etapas da Copa do Mundo de Atletismo para o jamaicano Asafa Powell. “Ele ainda não sabe como lidar com a pressão de uma final olímpica. Sou melhor que ele e vou mostrar isso”, garante o irreverente Greene, com a marra e a falta de modéstia habituais. O corredor teve seu prestígio aumentado depois do escândalo envolvendo outros velocistas, flagrados em exames antidoping. Outros que valem a pena acompanhar são o etíope Kenesissa Bekele, 21 anos, candidatíssimo ao ouro nos cinco mil e dez mil metros rasos, a inglesa Paula Radcliffe, recordista mundial da maratona, favorita ao ouro e ao título de sucessora de Deméter, a veloz deusa da caça. Olho vivo também na americana Amy Cuff, concorrente no salto em altura. A moça, além de excelente atleta, é tão bonita que foi parar na capa da Playboy deste mês.
Chore por mim, Brasil – No futebol, o papo da mesa não poderá deixar de lado os nossos hermanos do Rio de la Plata. Mordidos pela derrota para o Brasil B na Copa América e ainda com a cabeça inchada pelo fracasso na Copa de 2002, os argentinos chegaram à Grécia com sede de vingança. Logo na estréia, na quarta-feira 11, antes mesmo da cerimônia de abertura dos Jogos, sovaram a Sérvia e Montenegro por 6 a 0, logo depois da vitória do futebol feminino brasileiro sobre a Austrália, por 1 a 0. Tevez, Saviola, Killy Gonzalez e outros, sob o comando do técnico Marcelo “El Loco” Bielsa, estão doidos para voltar a Buenos Aires com o ouro olímpico – exatamente o único título que o Brasil, eliminado vergonhosamente no Pré-Olímpico do Chile, tenta, mas não consegue. O tênis poderá ver na final masculina uma repetição de Wimbledon. Número 1 do mundo, o suíço Roger Federer quer o ouro, sabendo que, para isso, poderá enfrentar, na decisão, o número 2, o americano Andy Roddick. Guga, animado, se apresenta como candidato a uma bela e bem-vinda zebra. Mas chegar ao Olimpo não é exclusividade dos jovens.
A veteraníssima Martina Navratilova, tenista com o maior número de vitórias em Grand Slam, multicampeã de Wimbledon, festeja sua estréia olímpica. “Estou adorando o ambiente da Vila Olímpica. Usar um uniforme, fazer parte de uma equipe. É rejuvenescedor”, afirmou. As jovens que se cuidem. Martina, ao que tudo indica, está com fome de medalha. Voltando à água, o ambiente renovador de uma Olimpíada atingiu até o cinquentão e milionário Paul Cayard (EUA). Depois de cinco participações na America’s Cup, a milionária prova disputada com barcos de muito milhões de dólares, Cayard voltou às origens e concorrerá na Classe Star. Um de seus adversários será o brasileiro Torben Grael, 44 anos. Na chamada Fórmula 1 da vela, até os candidatos à glória precisam ser experientes, curtidos por décadas de mar. É certo que, desde a Antiguidade, o Olimpo não reunia tantos deuses assim.