Bem-vindo em vários aspectos, elogiável em outros tantos, há um detalhe em que o governo Lula vem patinando feio: sua dificuldade crônica de convivência democrática com as críticas. Das mais estapafúrdias, como o lamentável artigo do The New York Times, às mais concretas, como as que ISTOÉ publicou sobre as peripécias fiscais de membros do Banco Central, as reações do Planalto não têm sido boas.

No caso do The New York Times, o governo chegou a ser mais desastrado
que o próprio autor da lastimável reportagem, quando determinou sua expulsão do País. A seu favor há o fato de que tenha voltado atrás na esdrúxula decisão. No caso dos funcionários do Banco Central, que resultou na demissão de um deles, a reação foi tão ruim quanto. Como que movidos por patológica paranóia, integrantes do governo chegaram a dizer que aquilo tudo era coisa de quem estava contra o crescimento do Brasil.

O ápice da insensatez foi atingido com o envio ao Congresso de um projeto de Conselho Federal de Jornalismo que, entre outras atribuições, teria a função de “orientar, disciplinar e fiscalizar” jornalistas. O momento em que isso aconteceu mostra a intenção de tolher uma das funções básicas do jornalismo, que é olhar o poder com lupa e relatar o que de errado se encontrar. E isso não é para vender mais revista, ou mais jornal, e sim para informar a população e também auxiliar os governos em suas caminhadas, seja aqui, nos Estados Unidos, na Inglaterra, na França, na Argentina, seja em qualquer outro país democrático. Assim vem sendo desde o começo da imprensa e assim será em qualquer lugar onde existir democracia. O que rege o jornalismo é a Constituição do Brasil. Como em tudo, os erros existiram, existem e existirão, mas eles não são a regra, e sim a exceção. A imprensa busca o acerto. O tamanho e a frequência do erro afetam a credibilidade. E a punição vem do leitor.

No livro Constituição do Brasil interpretada, o professor Alexandre de Moraes diz o seguinte: “A liberdade de expressão constitui um dos fundamentos essenciais de uma sociedade democrática e compreende não somente as informações consideradas como inofensivas, indiferentes ou favoráveis, mas também as que possam causar transtornos, resistência, inquietar pessoas, pois a democracia somente existe baseada na consagração do pluralismo de idéias, da tolerância de opiniões e do espírito aberto ao diálogo.”

Para Ibsen Pinheiro, que é personagem de capa desta edição por ter sido vítima de um execrável erro jornalístico, “o denuncismo tem cura, a verdade aparece. Na imprensa censurada, o denuncismo é eterno”. E mais: “Vejo com preocupação quando se pretende criar um conselho federal de jornalistas, com a função de supostamente orientar e fiscalizar, mas, sem dúvida, ainda que a proposta seja de boa-fé, o conteúdo será o do patrulhamento.”