O sacrifício imposto aos estudantes brasileiros com os seguidos erros, fraudes e falhas de toda ordem no sistema do Enem constitui, antes de tudo, um dano psicológico inaceitável a esses jovens aspirantes à universidade. Muitos conhecem a tensão e a ansiedade que cercam os candidatos às vésperas do grande teste. E imaginar um método de aplicação frágil que exija desde a repetição de provas até o adiamento sem-fim da data de avaliação – por conta da inépcia no controle –  equivale a um triste descaso social. Nessa situação, o prejuízo no desempenho daqueles que se preparam para o grande dia é inevitável. Compare-se, por exemplo, à situação do atleta que treina para atingir o seu máximo, o auge, antes da Copa. Planejamento semelhante é exigido dos antigos vestibulandos, hoje vítimas do Enem. Os alunos brasileiros, diante das confusões em cadeia e inoperância sistemática das autoridades educacionais, ficam reféns. Não sabem o que fazer, como e para quando se preparar, ou mesmo se a prova do grande dia valerá de fato. O Enem precisa ser revisto à luz de métodos modernos e eficazes de supervisão. Não é razoável que um exame de tal importância, pensado e instituído para unifi car a avaliação do ensino brasileiro – e que traga equidade de chances aos estudantes – apresente tamanha vulnerabilidade. Foram instituídas proibições de lápis, borracha e relógio durante as provas. Mas um simples celular foi capaz de cometer o estrago monumental do vazamento. Cartões de respostas vieram com falhas graves de impressão. Perguntas com grafi a e pontuação erradas, além de mal formuladas, marcaram a última edição do Enem. E quem perde? Fundamentalmente o estudante. E, por tabela, as instituições de ensino superior, que sofrem dissabores como atrasos na data de matrículas ou mesmo a insegurança na qualidade do admitido. Após a grande fraude do ano passado, com o comércio clandestino do gabarito, surrupiado de dentro da gráfi ca responsável por sua elaboração, era de se esperar que os mecanismos de controle e cuidados de acabamento fossem reforçados. Viu-se agora que não. O futuro do Enem, caso nada seja modifi cado, fica perigosamente comprometido e, dentro desse contexto, abre-se novamente a discussão sobre a sua efi cácia. Já há quem defenda que o melhor seria voltar à situação do exame descentralizado. Um retrocesso.