18/08/2004 - 10:00
Se não for diagnosticada rapidamente e tratada de maneira correta, a artrite reumatóide prejudica demais a vida de seus portadores. Causada por um defeito do sistema imunológico que faz com que as células de defesa ataquem as articulações do corpo, a doença compromete o movimento de mãos, tornozelos e até da coluna. Em casos graves, resulta em deformidades que podem impedir o doente de trabalhar e de realizar tarefas simples, como abotoar a camisa. Agora, os reumatologistas chamam a atenção para outro estrago. É cada vez mais evidente a associação entre a enfermidade e o infarto. “A doença é um fator de risco importante para a ocorrência do problema”, afirmou Gurkirpal Singh, professor da Universidade de Stanford (EUA), pesquisador do assunto.
A relação é compreensível. A doença se caracteriza pela inflamação das
articulações. E hoje já se sabe que a inflamação é peça importante no
mecanismo que leva ao infarto. Ela estimula o rompimento das placas de
gordura recém-formadas nas paredes das artérias que irrigam o coração, desencadeando a formação dos coágulos que entopem os vasos. Portanto,
se um indivíduo sofre de uma doença inflamatória generalizada, como a artrite reumatóide, tem mais chances de ser vítima de um infarto, já que o problema também tem como uma de suas causas a inflamação.
Mas há outras coincidências infelizes. Uma das drogas usadas no tratamento – a cortisona – altera o metabolismo da gordura, o que eleva o colesterol. “Além disso, em geral as limitações de movimento tornam o paciente sedentário, aumentando o risco de problemas cardíacos”, explica o reumatologista Ari Radu, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Os reumatologistas estão envolvidos ainda em outra empreitada. A Sociedade Brasileira de Reumatologia enviou ao Ministério da Saúde uma carta denunciando a dificuldade de acesso dos pacientes aos remédios contra a doença, cuja distribuição gratuita está prevista por portaria do Ministério. Eles também pedem a inclusão na lista de medicamentos oferecidos de mais duas drogas integrantes da classe dos anti TNF-alfa. De última geração, elas agem sobre o TNF, substância importante relacionada à inflamação. Hoje, apenas um produto do gênero está disponível na rede pública (o infliximabe). Os médicos querem que os outros dois (o etarnecepte e o adalimumabe) também se tornem acessíveis. “Oferecer outras alternativas é importante. A resposta dos doentes é diferente a cada um destes remédios”, argumenta Caio Moreira, presidente da sociedade. O Ministério determinou a realização de pareceres sobre a eficácia, o número de pacientes beneficiados e o impacto financeiro que a inclusão dos dois remédios causaria nas contas públicas. Quanto às críticas sobre os problemas para encontrar os medicamentos básicos, o governo argumenta que a compra dessas drogas é de responsabilidade dos Estados. Há outra ação da sociedade. Ela lançará uma campanha para informar a população sobre as doenças reumáticas e a necessidade de aumentar a presença de reumatologistas no atendimento público.