No Brasil, em geral, basta a temperatura baixar para bater a vontade de tomar um chá. Mas, para os apreciadores de uma boa e perfumada xícara de Camellia sinensis, a erva que deu origem ao costume, toda hora é hora, faça chuva, sol ou frio. Criado na China há quase 3.000 anos antes de Cristo, o chá nasceu da infusão de folhas dessa planta. Colhidas ainda verdes, elas são a base do chá verde. Caso sejam fermentadas, o resultado é o chá preto. Em tese, o nome da bebida só poderia ser atribuído a essa infusão. Mas na prática é usado para outras, feitas com folhagens diferentes, como a erva-mate (Ilex paraguariensis) – a mais consumida por aqui –, ou mesmo com flores e frutas.

O chá de Camellia é a segunda bebida do mundo, só perdendo em consumo para a água. É muito apreciada na forma verde, por exemplo, na China e no Japão. Na Inglaterra, reina a versão fermentada. Mas os ingleses não produzem a planta. A rigor, portanto, não há um chá inglês. O que existe é a tradição. “O mérito deles é ter popularizado a bebida, já que os portugueses, que trouxeram junto com os holandeses o costume para o Ocidente, só a serviam para a nobreza”, conta a nutricionista Carla Saueressig, dona de A Loja do Chá, uma franquia alemã (Tee Gschwendner), com casas em São Paulo, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre.

Hoje, é comum encontrar a planta misturada a ervas, frutas secas e especiarias
ou incrementada com ingredientes diversos, caso do óleo de bergamota. Quem preferir sorver a infusão feita só com a folha também encontra várias opções.
Isso porque a cultura da Camellia se diferencia de região para região, sofrendo influência do clima e da altitude.

Estudiosa do tema, Carla ensina que o chá pode até ser adoçado. “Isso acentua o sabor de alguns tipos, como os aromatizados”, diz. Ao contrário do que muitos imaginam, o chá verde não deve ser amargo. Se ele estiver muito acre, o preparo
não foi correto. A erva precisa ficar apenas alguns minutos na água quente
(o tempo de infusão varia, mas normalmente está descrito na “bula” do produto). Se o período for excedido, as folhas liberam mais tanino, substância que dá o sabor amargo à bebida.

Além de despertar interesse pela tradição, o chá de Camellia tem chamado
atenção por suas propriedades terapêuticas. Uma das mais propaladas é a ação emagrecedora (a bebida estimularia o metabolismo da gordura), mas há outros benefícios em estudo. Médicos da Universidade da Califórnia (EUA) notaram que compostos chamados polifenóis diminuíram o ritmo de crescimento de tumores de próstata. E cientistas da Universidade de Osaka, no Japão, revelaram que o chá preto melhora a circulação sanguínea duas horas após seu consumo.

Também está na mira da ciência a nossa erva-mate. Planta nativa da América do Sul, o número de trabalhos envolvendo a planta é bem menor. Porém, estudos recentes apresentam resultados promissores. Na Universidade Federal de Santa Catarina, comprovou-se em animais que o extrato de Ilex diminuiu em cerca de 50% a formação de placas de gordura. Na Universidade de São Paulo, o interesse se volta para a quantidade de compostos da planta. “Cada um tem uma atividade isolada. As saponinas inibem o crescimento de células cancerígenas. E os ácidos clorogênicos apresentam ação contra o envelhecimento celular”, exemplifica Deborah Markowicz Bastos, professora da Faculdade de Saúde Pública. Até o final deste ano, a pesquisadora e sua equipe pretendem publicar este estudo e outro que identificará as substâncias responsáveis pelo sabor – e aceitação – do produto.

Outro trabalho que se destaca foi feito com a camomila (Matricaria chamomilla).
No Hospital das Clínicas de São Paulo, a dentista Juliana Franco orienta bochecho com chá frio e sem açúcar de meia em meia hora para pacientes que fazem quimioterapia e radioterapia (neste caso contra câncer de cabeça e pescoço). Esses procedimentos causam lesões na mucosa da boca. “A cicatrização se dá na metade do tempo normal e a dor cessa em três ou quatro dias, fazendo com que a pessoa volte a se alimentar direito”, diz. Já foram atendidos 700 pacientes.

Independentemente desses estudos, os especialistas esperam que o brasileiro passe a consumir a bebida com satisfação. “O chá envolve rituais. Para quem
está no corre-corre, servir-se de uma xícara ajuda a relaxar”, afirma Antônio Carlos Leão, coordenador do setor de chá da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação. Já a nutricionista Carla acrescenta que o importante é apreciar a infusão do jeito que der mais prazer. E não precisa ser só no inverno. “No verão, não deixamos de beber café quente”, observa.