O alvo parece perfeito. Grécia, país europeu próximo ao Oriente Médio, que concentra delegações de 202 nacionalidades e a atenção irrestrita da mídia mundial. Com esse cenário, Atenas é forte candidata a palco de um ataque terrorista e o medo transforma a capital olímpica no local mais seguro do planeta. Embora especialistas considerem que um atentado seria óbvio demais, o alerta é geral. Na quinta-feira 19, um telefonema anônimo alarmou para a existência de uma suposta bomba no prédio da Federação Grega de Atletismo, no centro da capital olímpica. O edifício foi esvaziado, mas nada foi encontrado. O temor justificaria a falta de público nas competições. Foram vendidos 3,3 milhões de ingressos de um total de cinco milhões. A estratégia dos torcedores espalhados pelo mundo é assistir a tudo pela televisão. Calcula-se que quatro bilhões de espectadores estejam torcendo em frente à telinha.

Para a primeira Olimpíada realizada após os ataques terroristas de 11 de setembro, todo cuidado é pouco. Foi gasto US$ 1,5 bilhão em segurança, quantia quatro vezes maior do que a que foi gasta em Sydney e 20 vezes superior à dos jogos de Atlanta, quando uma bomba matou duas pessoas e feriu outras 100. A polícia grega interditou pontos considerados possíveis alvos e só ultrapassam as barreiras em torno do complexo olímpico veículos credenciados mediante inspeção. O esquema montado transformou Atenas num Big Brother gigante. Há 1,2 mil câmeras espalhadas pelas ruas, algumas delas com proteção contra explosões e tiros. Microfones embutidos gravam e transcrevem grego, árabe, idiomas europeus e distinguem ruídos de pneu furado, artilharia ou bomba. “Eu tenho curiosidade de descobrir os locais mirabolantes onde as câmeras estão”, conta Cláudio Motta, membro da delegação brasileira. “Mas não me incomodo de ser vigiado”, diz. Diferentemente de Motta, seis organizações internacionais em defesa do direito à privacidade entraram na Justiça contra o aparato. A gota d’água – além do arsenal de câmeras – foi a utilização do Phoebus, um parente distante do dirigível Pax que o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho implantou na cidade em 2002. O balão de hélio motorizado de 52 metros, que comporta dez pessoas, fareja ataques químicos. Phoebus atinge até 3,4 mil metros de altitude, tem autonomia para 16 horas de vôo e diferentemente dos cinco helicópteros empregados na empreitada esportista, sobrevoa as cidades olímpicas silenciosamente.

Para os demais aparatos, o que vale é a ostentação. O espaço aéreo é vigiado por dois aviões radar Awacs e conta com apoio da Otan. A sexta frota da Marinha americana protege a costa grega enquanto um navio de guerra ancorado próximo a uma das marinas de Atenas e baias estratégicas na beira-mar vigiam os estádios de handebol, vôlei de praia e de quadra. Mísseis Patriot estão posicionados em estações espalhadas pela capital e estima-se que submarinos nucleares também estejam a postos. Como seria de esperar, os detalhes sobre a segurança do evento grego são mantidos em sigilo. “Uma força bélica dessa poderia aniquilar uma cidade do tamanho de Santos em questão de horas”, avalia o especialista em segurança internacional Ricardo Chilelli. O cérebro das operações é um conselho de inteligência inédito formado por França, Alemanha, Israel, Espanha, Inglaterra, Austrália e EUA. O Brasil também está lá, mas como espectador. O comitê organizador dos Jogos Panamericanos 2007, que acontecerão no Rio de Janeiro, integra o Programa de Observação de Atenas. O evento é mesmo didático. A CIA encabeça um grupo composto por dezenas de agências de inteligência internacionais. Agentes do FBI acompanham cada disputa dos atletas americanos, que ao regressarem à vila olímpica são protegidos por oficiais armados. Os alojamentos britânico e israelense também contam com vigia armada 24 horas. A proteção aos países é mais ou menos proporcional à quantidade de tropas enviadas às guerras do Iraque e Afeganistão. Para dar conta da escolta dos 10,5 mil atletas participantes e ainda monitorar as ruas abarrotadas de turistas, foram empregados mais de 41 mil guardas – o triplo de Sydney. O projeto-base de segurança, batizado de Polidefkis, contempla 200 casos de ataques e acidentes naturais. A tropa foi treinada para reagir a ataques químicos, sequestro de aviões e surtos epidemiológicos. E como catástrofe pouca é bobagem, a organização dos Jogos adotou pela primeira vez um seguro no caso de a Olimpíada ser cancelada total ou parcialmente. Uma apólice feita pelo Comitê Olímpico Internacional dá proteção contra terrorismo, terremotos, inundações e desabamentos.