Das mitológicas águas do mar Egeu pode emergir o metal mais desejado pelos atletas brasileiros em Atenas. O trabalho, digno de um Hércules, está a cargo dos velejadores Robert Scheidt e Ricardo Winicki, o Bimba. Ambos lideram suas respectivas classes e estão próximos de serem os primeiros atletas do País a conquistar o ouro na Grécia. A situação mais confortável é do heptacampeão mundial Scheidt. Para chegar ao topo do pódio, ele precisa apenas de um nono lugar na última regata da classe laser. Os bons ventos gregos também empurram Bimba. Após a sexta regata de sua classe, a Mistral, ele manteve o primeiro lugar na classificação. O restante da delegação brasileira viveu um semana de poucas alegrias e muitas frustrações. No primeiro time brilha o judô. Leandro Guilheiro, na categoria leve, e Flávio Canto, na meio-médio, foram os únicos brasileiros a usar a milenar coroa de oliveiras, oferenda dada aos que conquistam medalhas. Destaque positivo para os nadadores Thiago Pereira, Gabriel Mangabeira e Joana Maranhão e para as ginastas Daniele Hypólito e Camila Comin. Todos finalistas de suas provas. No time das frustrações, brilham às avessas os judocas Carlos Honorato e Henrique Guimarães, o nadador Fernando Scherer, o Xuxa, e o tenista Gustavo Kurten, o Guga. Todos eliminados.

A dupla de bronze do judô deixa em Atenas um exemplo de talento, raça e superação. Guilheiro, discípulo de Aurélio Miguel e Rogério Sampaio, respectivamente medalhistas de ouro em Seul 1988 e Barcelona 1992, venceu, além dos adversários, insistentes dores na mão direita e no quadril. Um dia após o triunfo de Guilheiro, foi a vez de Flávio Canto dar a sua contribuição para colocar a modalidade, ao lado do atletismo e da vela, como o esporte recordista de medalhas na história olímpica brasileira. São 12 no total, sendo duas de ouro, três de prata e sete de bronze. Canto, filho de um físico nuclear, nasceu em Oxford, na Inglaterra, e não é um campeão apenas dentro do tatame. Fora dele está à frente de um projeto social em que ensina judô à garotada carente da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. “Acho que sou mais útil à sociedade fazendo esse trabalho. Vivemos em um país pobre e eu espero que essa medalha traga muita felicidade às crianças”, dizia um emocionado e humilde Canto. Além das crianças, Flávio dedicou o triunfo ao pai. Pouco antes da Olimpíada, Felipe Canto sofreu um infarto e teve que passar  por uma delicada cirurgia para a implantação de cinco pontes de safena.
“Minha grande medalha foi meu pai. Quando o problema dele apareceu, meu foco deixou de ser a Olimpíada e passou a ser ele. Depois daquele sofrimento, nem tive a cara-de-pau de pedir uma medalha a Deus.” Espera-se que Ele, mesmo sem que se peça, faça o mesmo por Scheidt, Bimba, Torben Grael e Marcelo Ferreira, as duplas feminina e masculina do vôlei de praia, Rodrigo Pessoa e seu cavalo, o Baloubet du Rouet, o vôlei de quadra masculino e feminino, o basquete feminino, Jadel Gregorio e Daiane dos Santos, nossas maiores esperanças de pódio nesta última semana de Olimpíada.