De um lado, o fantasma do terrorismo, elevado a astro mundial depois do fatídico 11 de setembro. Do outro, a desconfiança mundial de que a Grécia seria incapaz de criar as condições necessárias para organizar adequadamente o maior evento esportivo do mundo, amplificada pela sombra de Sydney 2000, considerados os Jogos mais bem organizados de todos os tempos. Até a cerimônia de abertura, no dia 13 de agosto, poucos tinham a certeza de que a enorme engrenagem montada na Grécia iria funcionar. Se em Sydney não havia dúvidas, em Atenas elas sobravam e até Zeus duvidava. Às vésperas do início da competição, e mesmo na primeira semana de disputa, os operários ainda se confundiam com atletas nos complexos olímpicos espalhados por uma cidade que, segundo seus moradores, teve a paisagem urbana mais modificada no último ano do que em todo o último século. Ganhou metrôs, trens, ônibus integrados à rede de transporte, ginásios e estádios moderníssimos. Ruas novas foram abertas e grandes vias tradicionais, reformadas. O terremoto de modernidade só poupou as jóias da história da civilização, entre elas a Acrópole, de onde, para o bem ou para o mal, tem-se vista privilegiada para observar o novo cenário. E assim, às pressas, para a salvação geral, tudo – melhor seria dizer quase tudo – funcionou a contento. Um saldo positivo extraído mais da vontade do povo grego, que se entregou de corpo e alma ao projeto, do que do profissionalismo da organização, a marca de Sydney. Os gregos não mostraram a regularidade dos australianos, mas foram eficientes no que era fundamental.

Os canteiros de obras ainda são evidentes em vários pontos da cidade. O zepelin dedo duro, onipresente no céu sempre azul da cidade, os mísseis patriots espalhados em áreas estratégicas e as mais de 1.200 câmeras bisbilhotando o cotidiano por todos os lados venderam a idéia de segurança. O aparato e as barreiras de revista provocaram irritação. Mas, pelo menos até a madrugada de sábado 28, estavam ganhando a batalha, pois, até aquele momento, nenhum atentado tinha sido registrado. Mesmo assim, o medo venceu a esperança e, pelo menos durante os Jogos, o turista não apareceu. Eram esperados mais de cem mil por dia, mas apenas dez mil chegaram. Há quem diga que havia mais gente trabalhando do que torcedores estrangeiros. Os hotéis ficaram com cerca de 4.500 vagas disponíveis e os preços, que estavam nas nuvens até a primeira semana dos Jogos, com quartos médios entre 400 e 500 euros a diária, caíram até 40%. As arquibancadas ficaram vazias. Ou cheia de gregos, que ganharam ingressos.

As competições de natação, atletismo, ciclismo, hipismo, ginástica rítmica, handebol, nado sincronizado e pólo aquático tiveram casa quase sempre cheia. Nas demais, um certo ar de desolação. Em alguns jogos de basquete, apenas dez por cento dos ingressos foram vendidos. IstoÉ flagrou a liberação da entrada nas finais do vôlei de praia masculino, algo impensável em Jogos mais concorridos. Vários brasileiros assistiram a Ricardo e Emanuel ganhar o ouro sem tirar um euro do bolso. Os gregos compensaram o atraso do comitê organizador e foram fundamentais para a realização de uma Olimpíada bem organizada. Resta saber se a alegria que tomou conta do país neste mês vai continuar depois que o bastão for passado para Pequim 2008. A dívida pública de 9,8% do PIB registrada no segundo trimestre deverá ser multiplicada algumas vezes até o final do ano. A festa foi bonita e feita às pressas, mas alguém vai ter de pagar a conta.