01/09/2004 - 10:00
Foram três medalhas de ouro garantidas até a madrugada de sábado 28. Duas vieram do iatismo, com Robert Scheidt na classe Laser e com a dupla Torben Schmidt Grael e Marcelo Ferreira, na Star. E a terceira, pelas mãos da dupla Ricardo e Emanuel, que confirmou o favoritismo e colocou o vôlei de praia masculino brasileiro pela primeira vez no topo do pódio, após a prata do mesmo Ricardo, em Sydney 2000, ao lado de Zé Marco. Após a bela vitória do vôlei masculino sobre os EUA por 3 sets a 0 (25/16, 25/17 e 25/23), na semifinal, o recorde de três medalhas douradas de Atlanta 1996, já igualado, tem grandes chances de ser superado no domingo 29. A última boa notícia da semana foi a prata do cavaleiro Rodrigo Pessoa e seu Baloubet du Rouet, a primeira individual de sua carreira. De qualquer modo, mesmo com mais ouros, é certo que o número total de medalhas será menor do que o recorde de 15 pódios de Atlanta em 1996 (três ouros, três pratas e nove bronzes). O contraste entre a melhoria na qualidade, por causa dos ouros que levaram o País a subir na classificação, e a redução no número de medalhas significa que, embora tenha mandado a mais numerosa equipe a uma Olimpíada – 246 atletas, sendo 124 homens e 122 mulheres –, o País precisará fazer um planejamento com um mínimo de competência e criar um programa de investimentos realmente sério e eficiente para descobrir e incentivar os novos talentos, aumentando a base.
Nunca uma delegação olímpica brasileira abrigou tanta gente com chance de conquistar medalha como a de Atenas. Antes dos Jogos, IstoÉ selecionou pelo menos 20 categorias com chance de pódio. O escalão de atletas emergentes capazes de produzir bons resultados ou chegar às semifinais e finais também foi o maior. Apesar disso, as medalhas seguem vindo quase sempre dos mesmos esportes: vela, vôlei e judô. Não por acaso, as duas últimas modalidades são territórios onde já existe uma base ampla de praticantes, o que permite a renovação constante das equipes. No caso da vela, há uma qualidade apurada por muitos anos de mar. As vitórias de Scheidt, Torben e do vôlei de praia, na prática, resgatam o insucesso inesperado em Sydney, onde, como agora, tinham a aura de favoritos. Na classe Star, Torben e Ferreira derrotaram ninguém menos do que o americano Paul Cayard, vencedor de várias edições da tradicional America’s Cup. Adriana Behar e Shelda, que em Sydney ficaram com a prata quando todos esperavam o ouro, desta vez não podiam fazer nada contra as americanas Misty May e Kerry Walsh, com alguma folga as melhores do mundo. É preciso reconhecer que o céu, para as brasileiras, neste caso, era mesmo o segundo lugar. O judô viu o inteligente e bem formado Flávio Canto ganhar o bronze em sua segunda Olimpíada. Além disso, a modalidade apresentou a surpresa de sempre: o jovem Leandro Grilheiro, 19 anos. O reconhecimento precisa ser estendido à abandonada equipe feminina de futebol, que quase sempre se reúne apenas às vésperas das competições. Depois de uma final heróica com os Estados Unidos, país com maior número de mulheres jogando futebol, perdeu a final por 2 a 1 com um gol aos seis minutos do segundo tempo da prorrogação. Prata com real valor de ouro.
Em contraste com as vitórias e medalhas, houve decepções claras em Atenas. Começou com a ginasta Daiane dos Santos, primeira brasileira campeã mundial, líder do ranking no solo. Chegou como favorita ao ouro, mas com um joelho ainda em recuperação de uma delicada operação de menisco. Submetida às pressões dos patrocinadores, da mídia e da cúpula esportiva, a pequena gaúcha não resistiu a combinação de cobrança e comemoração antecipada da vitória, agravada pelas dores que sentia e que foram escondidas de todos. Na hora decisiva,
errou feio e acabou em quinto lugar. Mas em matéria de morrer na praia, nada supera a equipe feminina de vôlei. O time, repetiu a sucessão de derrotas em semifinais que a persegue em Olimpíadas. O time chegou a ter cinco match-points no quarto set e, literalmente, entregou o ouro. A sinistra série começou em Barcelona, quando ficou em quarto lugar. Atlanta e Sydney viram a equipe feminina perder na semifinal, mas ainda assim conseguir um bronze, medalha que também pode vir neste sábado 28.
Entre as boas novidades está a ginástica rítmica que, com uma sexta colocação, chegou pela primeira vez a uma final olímpica. Debutaram também em finais os nadadores Thiago Pereira, Flavia Delaroli, Gabriel Mangabeira e Joanna Maranhão. O mais improvável de todos os finalistas brasileiros é o corredor Matheus Inocêncio, que se classificou para a final dos 110 m com barreiras. Inocêncio disputa sua segunda Olimpíada. A primeira, curiosamente, foi a de inverno, em 2002, em Salt Lake City. Ele integrou a equipe do bobsled (espécie de trenó carenado) para quatro atletas, conhecida como The frozen bananas (As bananas congeladas). E pretende repetir a dose em 2006, em Turim, na Itália. Deve ser o mais eclético atleta brasileiro.