01/09/2004 - 10:00
Não é de carro, de ônibus, carona ou a pé. O programa Passagens a R$ 1, da Gol, tem essa novidade que exige ver para crer. Funciona do primeiro minuto do sábado até o último minuto da segunda-feira. Sempre nos finais de semana, até o fim da chamada temporada baixa (novembro). Essa é a hora para entrar no site da empresa, ver quais as cidades brasileiras que estão incluídas na promoção da semana e, se quiser, fechar o negócio. Só a Gol, que nasceu há três anos e meio sob a inspiração do principal trunfo da NorthWest americana ? baixo custo, baixa tarifa ? e voa todos os dias sem nenhuma nuvem provocada por sua administração financeira, poderia se dar a esse aparente desatino. Não há risco de prejuízo. Quem vai por R$ 1 volta pela tarifa normal, com a vantagem de, se levar a família, ter redução no preço das passagens: 40% para crianças entre dois e 12 anos e gratuidade para crianças que têm menos de dois anos. É bom para quem compra e melhor ainda para quem vende. É pura estratégia de marketing, simples e bem implementada. ?Nenhum bom produto é colocado no mercado se não tiver um bom marketing?, diz Tarcisio Gargioni, vice-presidente de marketing e serviços. ?Se não tivéssemos um bom marketing, mesmo com um bom produto provavelmente não teríamos o sucesso que tivemos.? Padronização ? Da porta para dentro, a estratégia que nesse curto período levou a empresa à terceira posição no mercado (depois da TAM e da Varig) faz inveja a seus concorrentes. Só tem aviões novos, todos da Boeing, um inteligente exercício de padronização. Isso reduz os custos de manutenção. Também reduz custos o fato de esses modelos (Boeing 737-700 e 800 ? poderem voar mais alto do que os outros, numa altitude de 45 mil pés (os outros, em geral, voam a 35 mil pés), o que diminui o consumo de combustível e aumenta a velocidade. Não há nenhum segredo: nessa altitude o ar é rarefeito, ou seja, tem menos densidade. É uma empresa enxuta e ágil. Não demora para tomar decisões: ao constatar que Palmas, em Tocantins, não era uma escala lucrativa, mudou a rota. Tudo muito rapidamente, sem burocracia e atropelos administrativos. Como se fosse uma equipe de Fórmula 1, o raciocínio que prevalece é que ?o importante é o conjunto, carro, piloto e projeto?. O foco não é a internacionalização ? fora Buenos Aires, que entrará no cardápio de ofertas neste ano ? ?porque tem um custo muito alto e tiraria a empresa de seu foco?, diz Gargioni. O foco é facilitar a vida de quem quer sair de uma cidade e ir para outra o mais depressa possível e pelo melhor preço. É uma dobradinha infalível para crescer. O mercado de aviação no País hoje tem 33% de participação da TAM, 30% da Varig, 22% da Gol e algo em torno de 10% da Vasp. Em média, elas cresceram 11% no acumulado de janeiro a julho de 2004; em termos de volume, a Gol cresceu 31% no mesmo período. Sem glamour e sem burocracia. Seu serviço de bordo não oferece nada quente nem bebidas alcoólicas. Sanduíches só em viagens mais longas. Mas não se iluda. O glamour dos velhos tempos das viagens de avião sumiu com a crise do setor. Principalmente na classe econômica, onde, em geral, o serviço é de fast-food e o espaço impede que uma pessoa um pouco mais alta viaje com algum conforto. A vantagem da classe executiva está apenas no espaço. A Gol se livrou disso tudo com o conceito em que foi criada, apresentando-se como a única empresa brasileira regular a operar no conceito ?baixo custo?. Os salários de seus funcionários, especialmente dos pilotos, se equiparam aos do mercado, embora o trabalho seja maior porque a equipe da empresa é justa. Otimismo ? A empresa ainda não decolou no mercado de ações, onde estreou em junho, superando todas as expectativas dos profissionais do setor. Havia um otimismo generalizado no mercado de ações para qualquer movimento de abertura de capital. Passou a euforia com a situação do setor como um todo e a explosão dos preços do petróleo. Mesmo sendo uma empresa ?enxuta?, a Gol não consegue desviar dessa alta. Segundo alguns analistas do mercado de ações, a tendência é negativa. As ações da empresa já superaram os R$ 28, hoje estão no patamar de R$ 25,94, tendo o menor valor batido em R$ 24,60. Suas ações valem hoje menos 3,3%, enquanto as da Natura, que abriu o capital alguns meses antes, valorizaram 41,8%, quase o dobro do mercado como um todo (22,3%). A Gol colocou no mercado 38 milhões de ações preferenciais (sem direito a voto), algo inimaginável quando decolou para o primeiro vôo, num dos seis aviões de que dispunha na época. Atualmente, opera 23 aviões em 258 vôos diários para 31 destinos todo o Brasil. A idéia da empresa foi um gol de placa do jovem empresário, hoje presidente da companhia, Constantino Oliveira Júnior, com origem no transporte rodoviário, negócios de seu pai, Constantino de Oliveira, presidente do Conselho, que de alguma forma assiste às estripulias de seu filho em promoções que seus concorrentes tão cedo não poderão copiar.