Protestos marcaram, no Brasil, o Dia Nacional de Articulação e Mobilização de Luta contra a Aids. Na quarta-feira 25, as reclamações aconteceram principalmente pela falta de remédios ou pela falta de regularidade na sua disponibilização. Apesar disso, o Brasil é modelo no tratamento contra o mal e, nesta edição, mostramos um aterrador contraponto a essa área de excelência brasileira. Na Tailândia, onde os medicamentos são escassos e sua distribuição precária, vive-se o inferno da epidemia. Para mergulhar nesse pesadelo, a repórter Rosely Forganes consumiu vários dias no templo budista de Wat Phrabat Nampo, onde testemunhou uma das mais dramáticas realidades da Ásia: a luta dos doentes com Aids em fase terminal, abandonados ali pelas famílias, depois de terem sido recusados por diversos hospitais. Lá, diz Rosely, as pessoas vão esperar a morte. Ninguém sai do templo, já que as famílias recusam até as cinzas de seus parentes.

Como se entrasse num dos círculos do inferno descrito por Dante, a repórter acompanhou as últimas horas de agonia de Wassan, ex-chofer de caminhão de 26 anos, que jamais abandonou a esperança de voltar a ter uma vida normal. Mesmo com tanta dor e sofrimento, Rosely pôde constatar na maioria dos pacientes uma inacreditável vontade de viver, como Pissano, que passou sete anos sem andar e faz exercícios de fisioterapia para reaprender a dar seus passos. Nesse templo em que os monges também são soropositivos, a nesga de esperança é dada principalmente pelos voluntários estrangeiros dedicados, como o padre americano Michael, considerado um verdadeiro anjo da guarda dos pacientes do templo de Wat Phrabat Nampo. “Acreditamos que exista algo depois da morte. Minha mensagem é de esperança e solidariedade”, diz o padre.

Rosely Forganes mora em Paris há quase duas décadas, mas, apesar dos encantos, a Cidade Luz não consegue aquietar sua alma de repórter. Volta e meia, como correspondente, ela se enfia nos confins mais pobres e violentos do planeta. Já fez grandes reportagens para ISTOÉ e outros veículos de comunicação, no Camboja, Vietnã, Tailândia, Birmânia (atual Mianmá), China, Indonésia e no Timor Leste, entre outros países. Neste último, Rosely acompanhou o processo de independência e trabalhou com o atual presidente, Xanana Gusmão, com o então governante da ONU no Timor Leste, Sérgio Vieira de Mello, e com as tropas brasileiras que integraram a força de paz naquele país. Escreveu um livro sobre a epopéia timorense (Queimado, queimado, mas agora nosso – Timor Leste, das cinzas à liberdade) e por seu trabalho junto ao contingente militar brasileiro ganhou a maior condecoração do Exército Brasileiro, a medalha do Mérito Militar.