08/09/2004 - 10:00
Rock alternativo, rap e pitadas de arranjos eletrônicos. Sobre essa base difícil de definir, acrescente letras melancólicas, nas quais os adolescentes de hoje identifiquem em cheio seus dramas existenciais. Foi com essa receita que a banda americana Linkin Park alcançou uma das posições mais confortáveis no cenário pop atual. Em quatro anos, o grupo lançou três álbuns, vendeu 40 milhões de cópias e faturou dois Grammy com o disco de estréia, Hybrid theory. Mais recentemente, o clipe da música Breaking the habit – feito em animação e dirigido pelo ilustrador Nakazawa, o mesmo da sequência de mangá de Kill Bill vol. 1 – foi eleito pelos telespectadores da MTV americana o melhor vídeo do ano. No Brasil, o último CD do sexteto, Meteora, está próximo de alcançar a marca das 200 mil cópias vendidas. Seus fãs brasileiros serão os únicos da América Latina a assistir ao show da turnê Projekt revolution. A banda é a principal atração do Chimera Music Festival, que acontece no dia 11 no Estádio do Morumbi, em São Paulo.
Mesmo tendo como principal filão o público adolescente, o Linkin Park – formado em 1996 na Califórnia – foge do estereótipo de grupos teens caretinhas, cujo principal atrativo são garotos bonitos mais preocupados em acertar coreografias manjadas do que em desenvolver sua musicalidade. Os vocais de Chester Bennington e Mike Shinoda são fortes e, ao lado do guitarrista Brad Nelson, do baterista Rob Bourdon e do baixista Phoenix Farrel, a banda conta com a presença marcante do DJ Joe Hahn, que faz a diferença com samplers originais e outros arranjos eletrônicos. O produtor da banda é ninguém menos que Don Gilmore, que tem no currículo nomes como Pearl Jam e Sugar Ray. Sim, eles sabem fazer música, são bem assessorados e, com isso, conquistaram uma legião de fãs de tribos variadas.
Entre as 65 mil pessoas esperadas pela organização do Chimera para oshow – até quarta-feira 1º, 40 mil ingressos já haviam sido vendidos – será possível encontrar patricinhas, skatistas, metaleiros, surfistas… Fã de música clássica, a produtora carioca Cynthia Castro Nunes, 22 anos, virá do Rio de Janeiro especialmente para o show. “Vale a pena a viagem. Não faria isso por nenhuma outra banda, mas esses caras são sensacionais”, opina.
Letras intimistas – Enquanto alguns fãs são seduzidos pela sonoridade do grupo, outros caem de amores pelas letras depressivas e intimistas de Bennington e Shinoda, que compõem a maioria das canções. “As músicas passam mensagens que têm tudo a ver com a vida da gente”, diz o estudante paulistano Gustavo Souza Sgarbi, 16 anos. “A música Breaking the habit, por exemplo, fala sobre encontrar um ideal pelo qual valha a pena lutar”, completa. Essa letra, cujo título pode ser traduzido por “Largando o vício”, é uma boa mostra do que os meninos tristes do Linkin Park querem passar para seu público. “I know it’s not alright/so I’m breaking the habit/tonight” (sei que não está tudo bem/então estou largando o vício/esta noite) diz o refrão de Bennington, que já declarou publicamente ter problemas com drogas.
Outra música de identificação imediata com a inquietação juvenil é Somewhere I belong (Algum lugar onde eu me sinta em casa), hit do álbum Meteora. “
Chester e eu escrevemos sobre emoções universais, para quem está se sentindo insignificante, otimista ou frustrado. Escrevemos sobre o cotidiano,porque às vezes é bom saber se há outras pessoas que pensam e agem como você”, explicou o vocalista Shinoda em entrevista recente. Talvez por isso os adolescentes sejam os principais fãs da banda. Sem outra opção, os pais dão apoio e fazem pequenos sacrifícios para que os filhos prestigiem os ídolos. A arquiteta carioca Lucia Fillipo Silva Rego Braga virá de carro até a capital paulista no dia do show para acompanhar o filho, Leon, 12 anos. “Ele merece. Na minha juventude também ia aos shows e agora é o momento dele”, paparica. Já vai
longe o tempo dos Backstreet Boys e do N’Sync.