08/09/2004 - 10:00
Como acontece em outras áreas da cultura, a vitalidade de uma cinematografia se mede, entre outros fatores, pela constância da produção e pela variedade de temas abordados. Reflexo da ótima performance dos filmes nacionais, IstoÉ lança a partir desta edição a coleção
IstoÉ Festival do Cinema Brasileiro. A cada semana, até 15 de janeiro de 2005, 20 títulos recentes, em DVD e VHS, estarão disponíveis nas bancas junto com as edições da revista. Em São Paulo e na região Sul, o primeiro lançamento é o contundente Bicho de sete cabeças (2001), de Laís Bodansky, que denuncia os absurdos do sistema manicomial. Nos outros Estados, a estréia da coleção se dá sob o signo do humor com O xangô de Baker Street (2001), de Miguel Faria Jr., baseado no best seller de Jô Soares.
Entre os destaques aparecem ainda Caramuru (2001), de Guel Arraes; A partilha (2001), de Daniel Filho; Amores possíveis (2001), de Sandra Werneck; e Eu, tu, eles (2000), de Andrucha Waddington. Consultor da coleção, o cineasta e produtor Aníbal Massaini chama a atenção para o caráter abrangente do conjunto, que contempla grandes sucessos de bilheteria, como O auto da Compadecida (2000), de Arraes, com um público de 2,1 milhão de espectadores, e outros que investiram numa faixa mais segmentada, como Cronicamente inviável (2000), de Sergio Bianchi, e agora podem atingir uma outra parcela da população. “A princípio, o que norteou a escolha foi a representatividade das obras aliada à sua produção mais recente. A partir daí, chegamos a uma pluraridade de gêneros e de diretores.”
A diversidade de assuntos é patente nesta terceira etapa da coleção, lançada pela primeira vez em 1997, atingindo a marca de 1,5 milhão de fitas. Filão sempre bem-vindo, as comédias urbanas, sejam elas românticas, sejam de costumes, estão representadas na coleção por A partilha, Amores possíveis e, de certa forma, Copacabana (2001), de Carla Camuratti. Baseado na peça de Miguel Falabella, A partilha traz Gloria Pires, Andrea Beltrão, Paloma Duarte e Lilia Cabral como as quatro irmãs que fazem um acerto de contas afetivo durante a venda do apartamento herdado da mãe recém-falecida. Nem tanto familiar, mas extremamente urbano, Amores possíveis mostra três opções de vida para o carioca Carlos (Murilo Benício), esquecido na porta de um cinema pela amiga Júlia (Carolina Ferraz) – o casamento morno, o homossexualismo e a imaturidade emocional.
Na linha dos dramas históricos, cada vez mais eficientes em razão dos cuidados com a cenografia e a fotografia, alinham-se Desmundo (2003), de Alain Fresnot; A paixão de Jacobina (2001), de Fábio Barreto; e, num registro mais cômico, Caramuru. Outro gênero tradicional do cinema brasileiro vem resumido em Eu, tu, eles e O auto da Compadecida. Trata-se dos enredos passados no Nordeste, que na produção recente tem abandonado as agruras da seca para se voltar para o riso mais matreiro e anárquico. Tirado de uma história real, Eu, tu, eles mostra Regina Casé como uma mulher que consegue a proeza de ter três maridos diferentes – e que se dão muito bem. Mais alegórico e picaresco, O auto da Compadecida narra as estripulias de Chicó (Selton Mello) e João Grilo (Matheus Nachtergaele) no sertão da Paraíba. Baseado na peça de Ariano Suassuna, o filme poderia estar em outro segmento vasto e já tradicional, que responde pelas adaptações literárias. No gênero, comparecem na coleção o já citado O xangô de Baker Street; Bellini e a esfinge (2002), de Roberto Santucci Filho, cujo enredo foi tirado do romance policial homônimo de Tony Belloto; O homem nu (1997), de Hugo Carvana, baseado em conto de Fernando Sabino; e Memórias póstumas de Brás Cubas, de André Kotzel, inspirado no romance de Machado de Assis.
Pouco visto na época de seu lançamento, com sua eficiente transposição do universo machadiano, Memórias é, segundo Massaini, um dos títulos cujo lançamento em DVD e vídeo vai possibilitar uma nova reavaliação. “O público que fica em casa ou adquire um home video é diferente do que só assiste a filmes nos cinemas. Estes títulos que atraíram pouco público vão ter a oportunidade de ampliar a visibilidade de uma maneira até mais expressiva que nas próprias salas.” No mesmo grupo figura o belo Coração iluminado (1998), de Hector Babenco, sobre um homem que volta à cidade natal depois de 20 anos e se vê confrontado com paixões e fantasmas do passado. O público infantil também foi lembrado com Tainá – uma aventura na Amazônia (2001), de Tânia Lamarca e, Sérgio Blosh, que estará disponível em São Paulo e na região Sul na semana da criança, e nos outros Estados, no Natal. “Esta coleção vem bastante diferenciada das outras”, explica Massaini. “A primeira estava voltada para os clássicos e a segunda para os filmes da retomada.” Agora só falta a pipoca.