08/09/2004 - 10:00
Os dirigentes da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) e do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) costumam lembrar que a geração medalha de ouro em Barcelona 1992 estourou antes da hora. De acordo com o planejamento, os investimentos em Tande, Marcelo Negrão, Maurício, Giovane e companhia deveriam produzir algum fruto em Atlanta 1996, mas a resposta ao trabalho do técnico José Roberto Guimarães foi tão grande que o pódio – aliás, o topo do pódio – veio quatro anos antes. Os resultados dos Jogos de Atenas mostram que, em grande parte, está ocorrendo exatamente o mesmo com a China. Desde que Pequim foi escolhida para ser a cidade sede dos Jogos de 2008, os chineses vem executando um plano audacioso para aumentar a base de atletas com índices internacionais, o número de modalidades em que eles poderão ser competitivos e, consequentemente, os números do quadro de medalhas. Só que a agenda do projeto, no melhor sentido que poderia ter surgido à frente dos chineses, escapou do controle. Em Atenas, boa parte do conteúdo do pacote chinês foi desembrulhada. E o resultado foi o que se viu: seus 407 atletas conquistaram o segundo lugar geral, atrás apenas dos Estados Unidos, e 63 medalhas no total, sendo 32 delas de ouro, apenas três a menos do que as conquistadas pelos americanos. Planejavam conquistar “em torno de 20” douradas, mas, como se percebe, bateram a meta com folga. Ousados, invadiram e conquistaram ouro em territórios olímpicos até então jamais ocupados por eles, como o do atletismo, nos dez mil metros rasos femininos, com Huina Xing, e nos 110 metros com barreiras masculino, com Xiang Liu.
Finalistas – São os sinais mais evidentes de que eles farão de tudo para
não deixar escapar, em casa, a oportunidade de atropelar todo mundo, a
começar pelos americanos. “É no número de finalistas que se pode medir
o avanço esportivo de um país”, afirma o subchefe da delegação chinesa
em Atenas, Duan Shijie. Esportes de grupo como softbol, handebol, vôlei, pólo aquático e hockey estão recebendo estrutura e atenção especiais. “O objetivo é colocar nossos atletas em pelo menos 28 dos 31 esportes olímpicos. Se pelo menos dois terços dos nossos representantes não participarem das finais, será um desapontamento”, completa Duan Shijie.
Peça de propaganda – Apesar de ter sido turbinado após a escolha de Pequim, o planejamento chinês para incrementar os resultados esportivos recebe recursos há muito mais tempo. Nos últimos dez anos, o governo investiu US$ 150 milhões, arrecadados em loterias, para aumentar a prática esportiva. Semanas atrás, lançou mais dois destes jogos com o objetivo exclusivo de gerar recursos para a Olimpíada de Pequim. A festa vai consumir mais de US$ 10 bilhões. Há quem fale até no dobro disso. E dá para perceber que esses números não estão longe do que será a realidade. Apenas o belo e futurista Estádio Nacional Olímpico, que teve o projeto apelidado de “ninho do pássaro” pela semelhança de sua estrutura metálica perfurada, terá 80 mil lugares e custará pelo menos US$ 360 milhões. Próximo dele, será construído o Centro Nacional de Natação, com 17 mil lugares e um cubo de água que, aparentemente, permanecerá levitando no ar. Sydney 2000, considerada a Olimpíada mais bem organizada da história, cumpriu o cronograma no prazo. Atenas 2004 atrasou. Pequim 2008 está com as obras adiantadas e deverá terminá-las antes do tempo. “Vamos erguer verdadeiras obras de arte de infra-estrutura esportiva, que encarnarão a fusão das mais modernas tecnologias de construção, de arquitetura e da proteção ao meio ambiente”, diz um trecho do plano de ação dos Jogos. Além disso, querem 250 milhões de chineses falando no mínimo 100 palavras em inglês até a cerimônia de abertura. O governo sabe que os Jogos de Pequim e o desempenho dos atletas serão as duas mais importantes peças de propaganda do socialismo com abertura de mercado que transformou a China no país que mais cresce no planeta. E não vão perder a oportunidade de lustrar ao máximo essas duas peças.