08/09/2004 - 10:00
Depois de comemorar as quatro medalhas de ouro, três de prata e três de bronze conquistadas em Atenas, que deram ao Brasil a 18ª posição na classificação geral em uma Olimpíada, a cúpula do esporte brasileiro caiu na real. Sem aumento nos recursos financeiros disponíveis e sem a ampliação da infra-estrutura esportiva, com a construção de novos centros de treinamento semelhantes aos da ginástica, em Curitiba (PR), e o do vôlei, em Saquarema (RJ), vai ser muito difícil o País repetir a performance de Atenas. Os campeões da vela Torben Grael, Marcelo Ferreira e Robert Scheidt já podem ser considerados veteranos, mesma situação da dupla de vôlei de praia Ricardo e Emanuel. Assim, vai ser preciso investir dinheiro e muito trabalho para, ao menos, repetir Atenas, onde os atletas brasileiros chegaram a 24 finais, ganhando quatro, contra 17 de Sydney, perdendo todas. Para piorar as coisas, a Olimpíada na Grécia mostrou uma nova realidade mundial, com uma maior distribuição das medalhas entre os países. Mais gente ganhou medalhas, o que significa um aumento da competitividade e da qualidade dos atletas e das equipes.
Evoluir, ter atletas e equipes de ponta passou a ser sinônimo de mais dinheiro gasto e de locais de treinamento bem equipados. “A Lei Agnelo-Piva, que destina uma média de R$ 50 milhões por ano ao esporte olímpico e até R$ 10 milhões anuais ao paraolímpico, será aplicada pela primeira vez em todo um período de quatro anos entre Olimpíadas. Isso vai garantir uma base financeira ao trabalho do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB)”, aposta o ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz, que, como deputado federal, foi um dos autores da lei que garante recursos fixos das loterias da Caixa Econômica Federal ao esporte de alto rendimento. Agnelo admite que, em termos internacionais, os R$ 50 milhões anuais (pelo menos R$ 200 milhões até Pequim e R$ 150 milhões até o Pan-Americano de 2007 no Rio) que caberão ao COB para repartir com todas as confederações é pouco. “Só a federação italiana de vôlei recebe quase o dobro disso. Mas é o que o governo tem condições de garantir”, afirma. O ministro lembra que, para o governo Lula, a maior prioridade é investir no esporte como fator de inclusão social. Assim, o Orçamento da União destina, para 2005, pelo menos R$ 120 milhões a projetos de inclusão social através do esporte, como o Segundo Tempo, que pretende terminar 2005 com dois milhões de crianças praticando esporte nas escolas. O governo também vai dar prioridade à construção de quadras esportivas e a equipar escolas públicas em todo o País, para formar uma base futura. “Não é só o atleta que buscamos. Queremos ter cidadãos melhores e, para isso, o esporte na escola é fundamental”, afirma Agnelo Queiroz.
O próprio presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, admite que caberá ao organismo que dirige e às confederações encontrar novas fontes de recursos. Nuzman pretende estabelecer um maior rigor técnico com relação aos milhões da Lei Piva. “Vamos fazer uma revisão técnica da aplicação dos recursos com todas as confederações. Nenhum programa terá prosseguimento ou será iniciado antes disso”, garante Nuzman. Um dos aspectos técnicos que o COB quer discutir com as confederações é o dos índices. Alguns esportes, como o atletismo, levaram equipes muito grandes para Atenas, mas os índices de seleção foram fracos. Dar experiência internacional a jovens atletas promissores é importante. O que não pode é ter gente sem futuro e sem chances de medalha nas delegações. Neste aspecto, o Pan de 2007 no Rio de Janeiro será o grande laboratório do esporte brasileiro, tanto na competição quanto na organização, rumo ao sonho de abrigar uma Olimpíada.
O COB e as confederações terão que ficar de olho também em suas contas. A regulamentação da Lei Agnelo-Piva, aprovada em julho deste ano, determina ao Tribunal de Contas da União (TCU) fazer um controle rigoroso de todas as despesas e investimentos. Os dirigentes esportivos também terão que estar em dia com todos os impostos e tributos federais, como O Imposto de Renda e o INSS, por exemplo, ou não ganharão sequer um tostão. “O quadro vai ser bem diferente, não haverá mais espaço para amadorismo”, garante Agnelo Queiroz. Nuzman, por sua vez, aposta no apoio da iniciativa privada e nos patrocínios. Nesta área, por sinal, os Jogos de Atenas não deixaram ninguém aborrecido. A Brasil Telecom, que patrocina a ginástica, vai manter uma forte injeção de recursos, entusiasmada com a saga da pequena notável Daiane dos Santos, apesar da falta de medalhas. Pelo lado do governo, estatais como Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Correios, por exemplo, já estão renovando os contratos de patrocínio, pois estar ao lado de um medalhista do quilate de Robert Scheidt ou de Torben Grael faz bem à imagem e aos negócios de qualquer u