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DIVERSÃO Sempre que podem, os músicos Bruno Tavares, Jonas Rodrigues e Clariana Oliveira (da esq. para a dir.) se encontram para tocar covers do Metallica em versão do Guitar Hero

Os games musicais são o mais novo motivo para crianças e adolescentes ficarem grudados em frente à tela da tevê, o que costuma provocar arrepios em pais e educadores. Mas esse tipo de videogame tem álibis, segundo os próprios especialistas: estimulam a sociabilização e despertam o interesse pelo universo musical, por exemplo. Dois deles, o Guitar Hero e o Rock Band, já venderam mais de 30 milhões de cópias pelo mundo nos últimos quatro anos. E em setembro de 2009 chega o Rock Band com hits dos Beatles, outra aguardada promessa. O sucesso, que ainda engatinha no Brasil, é justificável. Uma vez rodando nos consoles mais badalados do momento – Playstation 3, Xbox 360 e Wii -, eles transformam jogadores com alguma coordenação motora em habilidosos guitarristas, bateristas e baixistas. Para isso, basta que a pessoa acompanhe uma sequência de teclas apresentada na tela com os botões do controle. Assim, o jogador tem a impressão de que é o responsável pela linha melódica do instrumento, como na música original. Para que a experiência fique ainda mais verossímil, foram criadas versões de brinquedo de modelos consagrados de guitarras para substituir o controle tradicional. Nelas, os botões ficam no braço e há até uma alavanca para distorções. O preço do brinquedo? Pacotes (Band in Box) que incluem jogo, guitarra, bateria e microfone variam entre R$ 1,1 mil e R$ 1,8 mil. "Esses jogos estimulam a experiência e o interesse musical. Tem gente que chega aqui querendo aprender, na guitarra de verdade, o que já toca nos games", diz Mônica Lima, proprietária da Escola de Música e Tecnologia de São Paulo (EM&T). "Meninos de 8 anos sabem até o modelo de instrumento que querem usar", afirma.

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O estudante Erick Pollido, 16 anos, já tem duas guitarras: uma Memphis e uma LeaderShip. A primeira é de verdade e, a segunda, de brinquedo. É que Erick tem duas bandas – uma "real" e outra no jogo Rock Band. Os membros das duas formações são os mesmos e ambas surgiram na mesma época. "Logo que começamos a jogar vimos que seria legal conseguir tocar as músicas como uma banda de verdade", afirma Erick, ecoando o que diz Mônica. Boa parte das canções que hoje integram o repertório da Hourglass – o grupo "de verdade" – foi ouvida pela primeira vez no game. O Rock Band oferece mais de 500 opções de músicas, que vão da velha guarda às estrelas contemporâneas. As bases sobre as quais o jogador toca são, em sua maioria, originais de músicas de gigantes como The Who, Rolling Stones e Bob Dylan. "A gente ensaia, mas acaba jogando mais do que tocando de verdade", admite o estudante. "Minha guitarra LeaderShip está caindo aos pedaços de tanto uso", diz. A Memphis continua inteira.

Embora veja o fenômeno Guitar Hero e Rock Band como algo positivo, Teca Alencar de Brito, que é dona da Teca Oficina de Música e professora do curso de licenciatura em educação musical da Universidade de São Paulo, faz algumas ressalvas. "Os games podem colaborar como parceiros no processo de educação musical, mas nunca substituí-lo", afirma Teca. Mas nem ela resiste. "Vou comprar um negócio desses aqui para a escola", diz. "Já vi muito aluno comentando, quero ver no que vai dar."

Mônica, dona da EM&T, já tem a resposta. Depois de instalar um Nintendo Wii com Guitar Hero e Rock Band na sala de jogos de sua escola, ela passou a ver alunos fazendo fila para tocar as guitarras de brinquedo (modelos Fender e Gibson) e a bateria eletrônica. "Foi engraçado ver a molecada que substituiu o rock pelo hip-hop e outros tipos de música eletrônica voltar a falar de Foo Fighters e até de Deep Purple", afirma. Um dos que estão sempre por lá se divertindo é Jonas Rodrigues da Silva, 28 anos. Ele é exemplo não só do sucesso desses jogos entre músicos de verdade, mas da variedade de público que eles atraem. "No Wii do EM&T a gente já terminou o jogo – abriu todas as músicas com os pontos que a gente acumulou", comemora.

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Para os especialistas, outra graça da nova geração de games musicais é que eles não excluem ninguém. Os níveis de dificuldade podem ser calibrados para incluir até o mais inexperiente dos jogadores e os controles estão cada vez mais intuitivos e fáceis de usar. Durante anos os títulos se concentraram basicamente em jogos de esporte e tiro, que são mais complexos e exigem treino. Mas recentemente o mercado ampliou principalmente na direção dos jogos casuais, que não exigem quase nenhum aprendizado e viabilizam experiências coletivas. "Aos poucos vemos os videogames voltando para a sala", observa Milton Beck, diretor da divisão de entretenimento e varejo da Microsoft no Brasil, resumindo mais um benefício desses jogos musicais: ajudar na integração de crianças, adolescentes e adultos, que vivem cada vez mais isolados. "Eu vejo a molecada muito sozinha. Com esses jogos eles voltam a se relacionar, conversar, trocar ideias e experiências. E isso é sempre bom", conclui Mônica, do EM&T. Se o som for harmonioso, melhor ainda.