Em estudo da Conferência das
Nações Unidas para o Comércio
e o Desenvolvimento (Unctad) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), obtido por ISTOÉ, expõem uma dura constatação a respeito do resultado dos investimentos estrangeiros diretos no País. Embora o Brasil tenha sido, por anos a fio, o tradicional alvo de grandes empresas estrangeiras na instalação de suas unidades de produção, a contribuição desses investimentos para um dos mais importantes pilares da economia brasileira – as exportações – decepciona. Por décadas, o Brasil recebeu investimentos que tinham como alvo o mercado interno, bem menos exigente que o internacional. Com isso, o País pouco aproveitou os mais importantes benefícios que a presença de empresas estrangeiras têm para oferecer: novas tecnologias, know-how, acesso a mercados internacionais e experiência em matéria de exportações.

As filiais brasileiras de grandes multinacionais, afirma o estudo, pouco se aventuraram no esforço exportador, que resultaria em parcerias mais
exigentes com empresas brasileiras, compelindo-as a fabricar produtos mais sofisticados a preços mais baixos. Também contribuíram pouco para o desenvolvimento de regiões mais pobres. Apenas 15% de todo o investimento estrangeiro ingressado no Brasil preferiu aportar fora da região Sudeste. Resultado: embora o País hospede unidades de 400 das 500 maiores multinacionais do planeta, poucas se dedicam primordialmente às exportações. Também são poucas as empresas brasileiras capazes de oferecer ao mundo produtos competitivos de alta tecnologia. A pauta de exportações do País continua apoiada em commodities, como grãos e aço, e produtos pobres em conhecimento e pesquisa. Diante desse quadro, não é de surpreender que a empresa brasileira mais citada como exemplo de sucesso em matéria de exportações sofisticadas seja uma ex-estatal: a Embraer. “Essa competitividade seletiva e limitada contribui para as baixas taxas de crescimento”, crava o estudo.

O diagnóstico Unctad-Pnud envolveu um extenso levantamento e inclui entrevistas com 40 dirigentes de multinacionais presentes no Brasil. De acordo com alguns dos entrevistados, a falta de competitividade brasileira faz o País perder espaço. Na hora de escolher uma filial voltada para vendas externas, a opção recai sobre concorrentes asiáticos como Malásia ou China. O objetivo do estudo é auxiliar o governo brasileiro a formular uma política mais eficiente de aproveitamento dos investimentos estrangeiros, induzindo-os a fortalecer a balança comercial. Trata-se de convencer grandes empresas transnacionais já instaladas por aqui a mudarem seu perfil, passando a priorizar o mercado externo em vez dos consumidores brasileiros. Para isso, o governo brasileiro terá de trabalhar duro na criação de condições para novos negócios e parceiras entre grandes empresas estrangeiras e potenciais fornecedores nacionais. Sem isso, jamais haverá transmissão de tecnologia. Também terá de se empenhar na criação de condições de competitividade (cortando impostos do setor produtivo e investindo em portos e aeroportos, por exemplo) e na ampliação do acesso brasileiro a mercados mundiais disputados, além de fazer a Invest Brasil – a agência brasileira responsável pela atração de investimentos estrangeiros – funcionar para valer. Avalia-se que, além de faltar ao Brasil uma política clara e coordenada voltada para o estímulo do investimento estrangeiro nas exportações, também não há uma estrutura estatal capaz de tocar essa nova política. A Invest Brasil não tem aporte financeiro ou instrumentos para assumir a tarefa. Como se vê, o desafio não tem nada de trivial.