Nesta época do ano, muita gente começa a pensar em férias. Seja porque o corpo está pedindo  descanso, seja porque o calendário aponta que logo, logo estamos entrando na reta final de 2004. É tempo de planejar a viagem, procurar promoções de passagens e hospedagens, conferir a temperatura do local pretendido e, por que não, buscar informações culturais sobre a região que se quer visitar. Uma pesquisa dessas pode livrar o turista de cometer algum deslize imperdoável.

Cerveja combina com calor. Para os brasileiros, a relação é quase direta.  Mas deve ser a última pedida para quem se aventura em países islâmicos. Neles, o gesto automático de pedir uma “loira” gelada no balcão seria um  crime. E a lista de comportamentos condenáveis não pára por aí. Como cada país tem a sua, crescem – e muito – as chances de alguém desavisado se enfiar numa enrascada.

Mas calma. Nem mesmo chefes de Estado escapam das saias-justas. Em dezembro de 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em uma visita oficial à Síria, ergueu um brinde durante seu discurso. O deslize teria sido evitado se
nosso mandatário tivesse sido lembrado de que lá não se bebe. É claro que ninguém é obrigado a ser um especialista em peculiaridades estrangeiras.
Para aprendê-las, só mesmo checando informações ou, infelizmente, cometendo gafes. “Os deslizes nos forçam a interagir com a cultura de outros povos”, diz Sergio Motta, que percorreu 24 países para escrever Uma viagem legal, que traz dicas que ajudam a evitar gestos embaraçosos. Se o desejo é conhecer o Marrocos, por exemplo, saiba que os marroquinos se sentem ofendidos quando alguém cruza as pernas. É que se acaba mostrando a sola do pé, para eles a parte mais suja do corpo. É desrespeitoso.

Erros desse tipo podem acontecer em diversas partes do mundo e são capazes de envenenar a camaradagem dos anfitriões. Na Rússia, os homens desconfiam de outros que não os cumprimentam com beijo na boca. Na Espanha ou Grécia, nem pense em ligar para alguém entre as duas e cinco horas da tarde. É o horário da siesta, o descanso após o almoço. E na Itália, aplaudir e assobiar em sinal de aprovação pára o espetáculo. O problema é que para os asiáticos, mais radicais, não há perdão. Para eles, gafes são gestos de má-fé. Os europeus são mais flexíveis.

De qualquer forma, o embaraço é sinal de pretensão do turista. “É como dar um certificado de validade universal aos nossos hábitos, como se fôssemos os únicos do planeta” diz a consultora italiana Barbara della Rocca, autora do Guia de boas maneiras para viajantes, lançado recentemente no Brasil. Se você pisou na bola, portanto, não finja que nada aconteceu. Também não tente corrigir alguma frase criminosa. Vale a receita do presidente americano George Washington: “Calar é a menos custosa das retiradas.” Para Barbara, haverá sempre alguém gentil o bastante para mudar de assunto com elegância.

Outro item a se levar em conta é cuidar da indumentária. “Viajar com pouca roupa é um risco desnecessário”, alerta a italiana. “Em quase toda Ásia a nudez indica que se pertence a uma baixa casta. Neste caso, prepare-se para ser desprezado”, diz. Também é erro crasso confundir traços culturais dos anfitriões com os de outro povo. “Não dá para comparar canadenses com americanos, coreanos com chineses, belgas com franceses”, completa a escritora.

Ao contrário do que se imaginava, a integração mundial não deu conta de  transformar o mundo numa aldeia global. “As diferenças nunca morrem”,
afirma Barbara. Os japoneses são um bom exemplo. Parecem abertos à cultura ocidental, mas ainda relutam na hora de apertar a mão de um
estrangeiro. No Japão, as pessoas não se tocam. Mas relaxe se você passar  da conta na terra do sol nascente. Pelo menos lá você poderá matar a vergonha com saquê. Beber até cair faz parte das boas regras de etiqueta.